"Life is not about waiting for the storm to pass. It's about learning to dance in the rain"

Vivian Green


domingo, 19 de dezembro de 2010

Benção dos Meninos Jesus dos Presépios

Hoje foi a bênção dos Meninos Jesus dos Presépios nos Jerónimos.
Uma cerimónia simples. Muito bonita, com uma encenação do nascimento de Jesus feita por crianças para crianças (linda!).
Cânticos simples e alegres.
No final todas as crianças se aproximaram do altar para a Bênção do Menino Jesus. O G., claro lá foi com os dois Meninos Jesus cá de casa (ambos dados pela avó E.: um está na sala junto à árvore de Natal, e outro está permanentemente junto ao anjinho da minha C.). Meio a tropeçar e quase a deixa-los cair... mas no final tudo correu bem!
Fez-nos bem. Muito bem.
Num dia difícil... que nos faz recordar que se passam já 11 meses desde que a C. partiu...
São momentos que nunca partilharemos com ela...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mais um Obstáculo

Foi e é tão difícil viver com a perda da minha C.. Mas houve sempre um pensamento que me foi "confortanto" neste percurso. A esperança de que em breve poderia pensar num 3º filho e que poderia voltar a sonhar. Voltar a sentir o meu colo mais cheio...
Mas esse sonho parece cada vez mais longe...
Desde Julho que posso engravidar. Desde Julho que faço tratamento de indução de ovulação (que nunca mais tive espontaneamente desde o parto da C.). O médico afirma que faço ovulação... mas não engravido.
É muito difícil lidar com mais este obstáculo...
Tudo é tão difícil desde Janeiro...

Está quase a fazer um ano que perdi a C.... nunca pensei que nesta altura ainda mantivesse este sentimento de vazio... Pensei sempre que nesta altura estaria a sonhar com a vinda de um 3º filho... que parece tão distante...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os dias passam e transformam-se em semanas. As semanas em meses. E quando dou por mim está quase a fazer um ano...
Parece que foi ontem. Ou parece que foi há uma eternidade?
Parece que sempre fez parte de mim. Parece que nunca houve o "antes da C.".
Não consigo deixar de desejar te-la aqui comigo. Não consigo sorrir como antes, nem ver a vida com a mesma espontaneidade de antes.
Ela faz-me falta. Aqui. Junto de mim. Com vida. Nos meus braços. Quente.
Não consigo deixar a culpa.
Preciso de ti!

domingo, 14 de novembro de 2010

Momentos

Há momentos que me enchem a alma... enquanto o adormecia com festinhas e miminhos abraçou-se a mim e disse-me com a voz mais doce e o olhar mais meigo: "oh minha mamãzinha, és tão quentinha que gostava que fosse o meu ninho de palha... adoro-te".
Adoro-te também meu filho... tanto...

sábado, 6 de novembro de 2010

Este espaço

Volto vezes sem conta a este espaço...
É o meu espaço.
Mas poucas são as vezes que escrevo.
Sinto que me repito. Sinto que me lamento.
Não saio do mesmo lugar. Fico presa nas mesmas palavras e nos mesmos sentimentos. Acabo por não escrever... porque sinto que me estou continuamente a repetir...
Não consigo.
Não consigo mudar os meus sentimentos. Não consigo alterar a minha forma de estar na vida desde que perdi a minha filha.
A lembrança dela nos meus braços aperta-me o peito.
O que eu daria para a ter aqui comigo.

Mudei tanto desde que a perdi. Nunca nada foi o mesmo. Nem será.
Não consigo ser a mesma mulher, a mesma filha, a mesma amiga... e o que me deixa aterrada... também não consigo ser a mesma mãe para o meu G.
Desespera-me o que o faço perder. Desespera-me perceber o que não lhe dou.

A minha filha que não existe aqui connosco é a mais forte presença nesta casa. É a mais forte presença na minha vida.
É um vazio. Um sentimento de desespero. Um não desejar. Um não querer. Um não sentir prazer em nada.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Falta de tudo

E quando...
Temos falta de Tudo... Mas sobretudo daquilo que é essencial para prosseguir: a vontade!
Como resolver?
Por vezes sair da cama de manhã com a realidade da perda da minha C. é um verdadeiro martírio... arrasto-me até ao trabalho... obrigo-me a fazer tudo o que é esperado de mim... volto para casa, onde volto a obrigar-me a fazer tudo o que é esperado de mim... Só fico em paz quando finalmente adormeço e apago de tudo.

Fazes-me tanta falta, C.. Como te queria aqui...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

5 ANOS!

Ainda me custa dizer e perceber... mas fez ontem 5 anos! 5! Desde que o G. chegou às nossas vidas.

As melhores recordações da minha vida concentram-se nesse dia. Um momento muito desejado, uma cesariana programada (por questões médicas); o prenúncio de uma felicidade que adivinhava há meses e que foi vivida na sua plenitude.
Foi com muita tranquilidade, emoção e um coração totalmente aberto e sedento que acolhi o meu filho nos meus braços.
E este filho atribuiu um sentido totalmente novo à minha vida.
É, e será sempre a minha razão de viver.

Olho para ele hoje e nem consigo acreditar como cresceu. O sorriso lê-se-lhe nos olhos grandes, vivos e escuros. A voz carrega uma ternura que não consigo traduzir por palavras e os seus beijos... os seus beijos enchem-me a alma.

Como me sinto grata pela dádiva que Deus me concedeu.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Desabafos

Desabafo... que continua a ser muito difícil lidar com a perda da minha C....
Que quando as colegas do trabalho sorriem e saem mais cedo pela licença de amamentação o meu coração fica apertado.
Que quando as colegas falam da pena que têm por terem o leite a secar sinto um baque seco dentro de mim.
Que não mais voltei a ser a mesma mãe para o meu filho.
Que não mais voltei a ser a mesma mulher.
Que a maior parte dos dias me apetece simplesmente fechar-me no meu quarto longe de tudo e de todos e dormir meses a fio. Simplesmente não sentir. Simplesmente não existir.

Desabafo... que depois de todos estes meses saber que finalmente posso engravidar e não o conseguir me deixa de rastos. Completamente sem forças. Que o fôlego que tinha conseguido readquirir desde a perda da minha C. se esvai neste sentimento de falhanço e de incapacidade que gritam dentro de mim.

Desabafo que o trabalho é um escape. Que o arranjar tarefas e mil e uma coisas para fazer são uma desculpa enorme e descarada para não ter de enfrentar tudo e todos.

Sim, de facto durante meses não podia nem física nem emocionalmente suportar outra gravidez. Mas o saber que finalmente o poderia fazer e que não consigo engravidar deixa-me de rastos. Preciso deste passo para seguir em frente.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Um bom momento

Às segundas e terças-feiras saio do trabalho apenas às 21.00. Trabalhamos com pessoas que muitas vezes estão empregadas, pelo que temos necessariamente de dispor de atendimento em pós-laboral.
Após o trabalho vim a correr para casa. Foi tempo de matar saudades do meu G.. Saber como correu o seu dia, contar a história de boas-noites, dar o leitinho, rezar e dar-lhe uns miminhos antes de dormir.
Ele estava feliz e num dia bastante tranquilo. E eu estava cheia de saudades do seu cheiro e da sua voz doce. Encheu-me o coração.
Pelas 22.30 a T., minha amiga e colega de trabalho veio tomar um chá. Optámos por ir dar uma volta a pé e fomos até ao Cinema Londres tomar o nosso chá e comer uma deliciosa fatia de bolo de chocolate.
Fluíram conversas despreocupadas. Leves. Sem dor. Sem tristezas associadas.
Foi bom. Muito bom.
Um momento descontraído como há muito não tinha.
Obrigada amiga. Não creio que consigas imaginar a importância que teve para mim este bocadinho. Fez-me bem...

domingo, 19 de setembro de 2010

Dia difícil

Hoje foi um dia muito difícil.
Sim, na verdade todos são difíceis. Mas hoje voltei a um estado que tenho conseguido controlar ultimamente: chorar constantemente.
Fazes-me falta. Muita falta.
Preciso tanto de ti.

8 Meses

8 longos meses desde que sei que partiste. O dia de hoje é triste, muito triste para mim.
O que poderíamos ter vivido juntas. O que poderíamos ter partilhado. O amor que te poderia ter dado.
O fim de mim como me conhecia. O emergir de uma realidade que continuo a não aceitar. E que não aceitarei nunca.
Dá-me um sinal de que estás bem. Por favor. Aparece-me em sonhos, deixa-me uma marca, dá-me um sinal por mais ténue que seja. Preciso tanto de ti.
Continuo a amar-te. Hoje e sempre.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Continua a custar tanto...

A saudade. É algo que me aniquila. A saudade da minha filha.
Não consigo seguir em frente. Não quero. Sinto-me como se tivesse um grilhão com uma enorme bola de ferro presa que me puxa para baixo. Cada vez mais para baixo.

A esta saudade junta-se a dor de não conseguir engravidar novamente. O medo de não ser capaz. O saber que preciso de um Terceiro Filho para voltar a olhar para o futuro com um sorriso.
Sim, sei que não posso fazer a minha vida depender de ter um filho... nem a minha felicidade... mas na verdade esforcei-me ao máximo por investir noutros projectos ao longo de todos estes meses. Mas não foram esses projectos que falharam. Eu é que a dada altura não consegui responder-lhes por estar tão desesperada. E eu preciso, mas preciso verdadeiramente de investir neste projecto, neste desejo: um terceiro filho!

Sinto-me desesperar.

domingo, 12 de setembro de 2010

Vitórias - Parte II (Para recordar mais tarde...)

Andar de baloiço sozinho! Sem ninguém a empurrar!

- "Vê mamã como eu consigo andar rápido! Quase que batia com os pés naquela árvore, não é?"
- "Sem dúvida filho... a sorte é que ela está bem longe..." (quase a Quilómetros...)
Foi hoje à tarde no Jardim da Estrela, se bem que a primeira vez que conseguiu andar sozinho foi na última semana de Agosto no parque infantil do empreendimento de férias em Vilamoura.
Hoje estava-se bem no Jardim da Estrela: crianças a correr, o miúdo feliz, os vizinhos A. e M. com os filhos Maria e António sentados ao nosso lado sob uma toalha na relva.

Antes disso o G. e a Maria tinham estado a brincar cá em casa enquanto o António fazia a sesta após nos cruzarmos ao almoço no McDonalds. Jogámos ao disco e fizemos pinturas com as tintas e os pincéis. Uns acidentes pelo meio com a água e muita diversão para os miúdos.
Um dia feliz para uma criança faz-se com coisas simples...

sábado, 11 de setembro de 2010

Saudades

As saudades da minha C. continuam a ser imensas...
Tento estar melhor, alimentar-me melhor, dormir melhor, ser melhor amiga, ser melhor Mãe do meu G., ser melhor mulher... estar um pouco mais próxima do que fui um dia.
Mas custa. Muito.
E não posso deixar de admitir que a principal motivação para estar melhor é o desejo que sinto por um terceiro filho. Claro... que quando desejamos tanto uma gravidez e a ansiedade é mais que muita... ela não acontece... e a frustração é imensa... e junta-se à tristeza que me consome desde Janeiro e tudo se torna ainda mais cinzento...

O caminho mais simples parece-me ser deitar-me na minha cama, fechar os estores e a porta e dormir durante meses e meses e meses. Dormir e adormecer a dor de ter perdido a minha C.. Encontra-la em sonhos, te-la nos meus braços, sentir o que não senti.
Julgo que sei porque não o fiz... aliás tenho a certeza... só não o fiz porque tenho o meu querido G., que tanto amo e que dá todo o sentido à minha vida...

Quero-te tanto minha filha. Tanto.
E o sofrimento de não te ter é uma dor que não é apenas uma emoção. É uma dor que se sente no corpo. Como um peso forte que me comprime o peito e não me deixa respirar.

Não consigo deixar-te partir. E não quero fazê-lo. Quero-te aqui comigo.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Um filho Sonhado

O desejo a crescer. Tanto.
O receio de não ser possível também...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Pequenas Vitórias

É oficial. Aconteceu este Sábado! O meu G., que sempre foi muito desenvolto na água, aprendeu a nadar sem braçadeiras (entenda-se "manter-se à superfície e deslizar de um lado para o outro da piscina").
Fruto das muitas brincadeiras com o papá na piscina (que na verdade é assim todos os anos), de valentes pulos para a água e de muitas horas em animada galhofada. Mas sobretudo: fruto da sua persistência, da sua coragem e do seu empenho.
E aquele sorriso lindo naquela cara?
E aquele puro contentamento que emana de "ter sido capaz"?
Enchem-me o coração!
Pequenas Vitórias, meu filho. É destes momentos que a vida é feita. Quão maravilhoso é poder partilha-los contigo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Férias

Sim, estamos de férias.
Temi-as e até desejei que não viessem. Receava tanto tempo livre para os meus pensamentos... O trabalho actualmente funciona como um escape, uma espécie de "realidade alternativa" que me permite viver noutra dimensão.
Mas está tudo a correr bem.
Estamos por Beja, numa Pousada.
O G. anda radiante e corre o dia todo entre as brincadeiras com os pais junto à piscina (sim... já vou conseguindo voltar a brincar com ele de uma forma mais descontraída) e o Kids Club. Fez duas amiguinhas com quem passa muito tempo em animadas brincadeiras (como me fazem recordar a minha C....).
Continuo a pensar muito na minha C.. Na falta que ela me faz e como tudo poderia ser mais risonho se ela estivesse connosco... Pensarei sempre muito nela. Sei disso.
Penso também no meu desejo de um terceiro filho, mas com mais tranquilidade. Talvez por estar de férias. Talvez por estar neste ambiente tão tranquilo. Mas consigo pensar neste Filho Sonhado com mais tranquilidade.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Conforto em Crer

Ser crente.
O conforto (emocional) que a Religião me traz, particularmente desde a perda da minha C., é precioso.
Agradeço a Deus e à Mãe do Céu por todas as dádivas que tive e tenho na vida. É a Eles que entrego a minha doce C.. É a Eles a quem peço tantas vezes que a recebam e a acarinhem... do modo que eu não fui capaz...
A Igreja da nossa nova Paróquia acolheu-nos de braços abertos. Sem perguntas e sem questões. Numa postura de total abertura e de aceitação sincera.
Tudo começou quando nos dirigimos um dia ao Acolhimento para marcar a missa mensal pela C. Naquele dia estava lá a RM. Com um sorriso fez-nos a pergunta que sentiu, por algum motivo, ser tão importante para nós: "...E quem era a C.?".
A saudade inundou-me o coração e as lágrimas embargaram-me a voz, quando respondi que era a nossa bebé.
Partilhou connosco que também perdera uma filha pouco depois do seu nascimento. Falámos uns minutos acerca da C. e da filha que ela perdera há muitos anos.
Um olhar de quem sabe e compreende a dor. De quem a viveu e percebe a angústia e o desespero de não ter nos braços aquele ser a quem demos a vida e que tanto amávamos...
Disse-nos que iria à missa rezar pelas nossas filhas e que gostaria que colaborássemos na Paróquia. Dissemos que sim. Deixámos os nossos contactos.
Na missa voltámo-nos a encontrar. No final apresentou-nos o Senhor Prior, que nos disse com um sorriso "Ah, ela está com Deus", referindo-se à nossa C.
Na passada semana fomos então convidados a participar num "café" em casa do Senhor Prior. Casais discutiam com o Senhor Prior acerca de programas da Paróquia.
Receberam-nos com um sorriso e muita simpatia. Em breve nos vimos com um jantar marcado em casa do casal mais jovem do grupo, a A. e o M..
Fomos ontem.
Um jantar muito agradável. Um casal que nos recebeu quase sem nos conhecer e que se preocupou connosco. Foi bom, foi muito bom. Falámos de tudo: filhos, casas, Religião, trabalho, alimentação, valores morais, emprego, formação...
No meio a partilha aberta e sincera que nos fizeram acerca da perda de dois dos seus 4 filhos (ainda durante a gestação). A segunda perda tão próxima da perda da nossa C. (em Outubro).
Um exemplo. Um alívio. A empatia. A admiração pela entrega que revelam; pela atitude que têm perante a vida.
Certamente um marco que será determinante num aprofundamento da nossa vida espiritual.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Desejar

Desejar... Muito... Um terceiro filho.
O parecer médico já autoriza, mas o corpo não permite.
Mente e corpo são ainda da minha doce C. e ainda não me permitem partir livremente e abraçar este desejo.
Mas está a crescer e a tornar-se tão importante para mim...

A confusão de sentimentos vai-se gerando também com este desejo: culpa, traição, errado... sonho, desejar, querer, sentir.

Perdoa-me minha doce C. Por tudo.
Amar-te-ei sempre, mesmo com a vida entre nós. E anseio o dia em que te reencontrarei... tanto...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Trabalho

Regressei ao trabalho a 24 de Maio.
Resguardei-me do confronto com as colegas grávidas (quatro no total). Voltei quando terminaram os meus 4 meses de licença. Voltei quando saiu a ultima colega grávida.
Hoje sondaram-me pois essa colega referiu a alguém que gostaria de ir ao trabalho com a bebé, mas que receava fazê-lo por minha causa.
Se me custa? Claro que sim. Imenso (não o disse, claro...). Mas não mais do que todas as vezes que tive de me confrontar com candidatos que me perguntaram pela minha filha. Às vezes até em contextos menos adequados, como no meio de uma sessão de esclarecimento em grupo...
Se desejava gritar a plenos pulmões que me custa horrores esse confronto? Claro... Mas não o fiz...
Sei que a minha zona de conforto termina quando interfere com o bem-estar e livre arbítrio dos outros. Sei também que por mais que deseja adiar esse confronto ele acontecerá um dia.
Sim, é mais uma constatação de que a minha filha não está cá e que nunca estará.
Que venha a colega e a sua bebé... nada poderá mudar aquilo que eu mais desejava...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Continuamos

A nossa família continua. Sinto actualmente a vida como um caminho indefinido.

O meu filho está lindo. Está numa fase óptima. Muito bem comportado (para o que seria o padrão do nosso G., entenda-se). Feliz. Mais autónomo. Mais crescido. Cada vez mais menino e menos bebé.
Amanhã vai vestido com o equipamento da selecção (made in Continente, claro) para a escola, embora esteja dividido porque também simpatiza com o Brasil ("é que lá está sempre sol, mamã") - andamos os dois a tentar convencer o pai a levar-nos de férias ao Brasil quando tudo estiver mais calmo.
Continua e será sempre a minha razão de viver. O que me preenche e dá sentido à minha existência.
O seu sorriso, a sua criatividade, o seu abraço ternurento e o seu beijo meigo enchem-me o coração

O M. anda com um pé em Coimbra e outro cá em Lisboa: a situação de saúde do seu pai assim o exige e honestamente prefiro que ele passe o máximo de tempo possível com o pai e que lhe dê tudo o que puder neste momento. Compreendo a necessidade que ele tem de estar junto do pai. Mas está cansado. Não o diz, nunca o faria, mas noto-o claramente. Desdobra-se para dar atenção a todos e responder a tudo : a nós, ao pai, à mãe, à irmã, ao trabalho...
Sempre o M. de sempre: com um sorriso nos lábios, uma piada sempre na ponta da língua e uma postura de quem tenta demonstrar que está tudo bem...
Continua a ser o meu porto de abrigo. Quem me abraça, limpa as minhas lágrimas e percebe a minha dor. Porque partilha dela. Porque a viveu comigo.
Quem me indica o Norte e me dá a mão para caminhar na direcção certa.
Um pai maravilhoso. O melhor marido que poderia ter desejado.
Um companheiro para a vida.

A minha doce C.... Continua a fazer-me uma falta imensa. Fará sempre.
Sinto tanto, mas tanto a falta do que não tive: do choro dela, do toque dela, do cheiro dela, do corpo dela, do olhar, do sorriso, da Vida dela...
Tudo na minha vida é feito a pensar nela. Em tudo ela tem a sua existência.
Sim, estou mais em paz comigo mesma. Mas a saudade pelo que não tive, a saudade do que não lhe dei, a saudade do que poderia ter sido inunda-me a todo o momento.
Amo-te minha filha, mesmo com a vida entre nós. Como eu queria sentir-te.

O desejo de um terceiro filho dá-me força para seguir em frente e acreditar que a felicidade de ter um filho comigo pode desdobrar-se... É ainda um sonho. Um projecto acalentado e desejado.
Quando o conselho médico o permitir. Quando o meu organismo o permitir.
Mas um desejo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Em Paz

Acho que fiz as pazes comigo mesma.
Estou em paz.
Como uma pequena bailarina, como um lindo floco de neve: assim é a minha filha.
Com os meus olhos. Linda. Perfeita. Ao meu colo. A sorrir e a brincar.
Sei que estás bem. Sei que estás connosco. Não como esperaríamos, não como desejaríamos. Mas estás connosco. E isso enche-me o coração e dá paz à minha alma.
Obrigada Mãe do Céu por ouvires as minhas preces. Obrigada por a embalares nos Teus braços como tantas vezes To pedi.
Obrigada minha filha amada por me trazeres esta paz.
Por saber que nos compreendes. Por me permitires saber que o que de mais importante te podíamos ter dado foi-te oferecido desde sempre: o nosso amor.

Amo-te. Para sempre. Aguardo com ansiedade o dia em que te reencontrarei.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Um dia de "loucuras"

O pai foi busca-lo à escola. Passei o dia todo na obra e a tratar de coisas para a casa nova. Estava de cabeça "cheia".
Sabia que se viesse para casa os sentimentos de desespero, cansaço e tristeza me inundariam. Decidi que era um excelente dia para cometer pequenas e inocentes loucuras. O meu querido G. não tem tido a mãe que conheceu até alguns meses atrás... Pesa-me a consciência em relação a ele...
Eram 18.30 quando estava a chegar a casa. Liguei ao M. e expliquei-lhe a minha ideia; ele alinhou sem questionar. Não subi as escadas, ao invés disso desceram eles.
O miúdo ficou felicíssimo!
O plano da festa seria:
1º Ir comer gelados (mesmo em cima da hora de jantar)
2º Ir comer uma refeição pouco saudável ao McDonalds
3º Ir à rua da casa nova buscar caixotes que as lojas colocam na rua ao final do dia para preparar as coisas para a mudança (uma loucura aos olhos do nosso G.)

Parece um programa simples. Sem nada de mais... Mas nos dias que correm na nossa família é inédito.

O G. ficou tão feliz! Consegui "dar-me". Consegui sorrir, brincar e participar nas palhaçadas. Como o meu menino ficou feliz!
O sorriso espelhado nos lábios e nos olhos do meu G. inunda-me a alma!
Há meses que não tínhamos um fim de tarde assim... desde que soubemos que a nossa bebé tão desejada estava muito doente... desde 11 de Janeiro...

terça-feira, 11 de maio de 2010

À procura

É como ando.
À procura de mim mesma. À procura de respostas. À procura da minha C.
Estarás bem, minha filha?
Estarás nos braços da Mãe, como tantas vezes Lhe peço?
O meu coração ficaria tão mais tranquilo com essa certeza...
Amo-te. Para sempre. Mesmo com a vida entre nós.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Saudade

A saudade do que não se tem e nunca se teve é indescritível.
A realidade do nosso sentimento embate no nada.
Falta o choro, falta o riso, falta o calor. Falta tudo o que não senti quando a tive nos meus braços.
Parece-me tão real... e no entanto nunca existiu. Nunca esteve cá. Como me disse uma vez a Dr.ª T.B., que tão importante foi para mim neste processo: "ela não existe, nunca existiu sem ser para si". Na altura essas palavras caíram como chumbo: foram pesadas, duras e doeram. Hoje caem no nada. Porque de facto nunca a tive.
Mas é mais real do que tudo ! É tão real como o meu filho vivo! Que respira e que dorme serenamente aqui ao meu lado. É real para mim.
Lembro-me de a ver. Não lhe tinha levado nenhuma roupinha, pois na maternidade disseram-me para não o fazer. Mas as pessoas que conheci e me acompanharam naquele dia foram maravilhosas. Uma delas foi a enfermeira Amélia. Levou-a quando nasceu e trouxe-ma num bercinho tal qual um bebé vivo. Vestida com um vestidinho amarelo, velho e coçado. Embrulhada numa manta desgastada e meio rasgada.
Era linda. Minha. A minha filha que eu tanto amo.
A enfermeira disse-me com toda a sinceridade "Fiz o melhor que podia e sabia".
Não tenho palavras para lhe agradecer. A minha menina.
Permitiram que ficasse largos minutos com ela no meu colo. o M. também a quis aconchegar no seu colo. Deixaram-nos ficar sós com ela. Deixaram o padre vir.
No fim voltou a enfermeira Amélia: "Tenho de a levar, desculpem". Um último beijo. Deixei que a levasse.
Como a queria aqui agora.

Dia da Mãe na Escola!

Na escolinha do meu G. todas as mães foram convidadas para passar uma manhã divertida alusiva ao Dia da Mãe. Não podia faltar, claro! Comparecemos às 09.00 conforme vinha no convite (entregue há alguns dias) devidamente equipados para começar a manhã com uma bela aula de ginástica!
O máximo! A professora Catarina arranjou umas actividades desportivas muito engraçadas para fazermos neste dia!
O jogo dos cartões coloridos, em que cada cartão tinha uma actividade associada (ex. dar beijinhos, abraçar...) e que quando era exibido todos tínhamos de parar de correr e fazer essa actividade;
O jogo da raposa, em que a mãe colocava uma cauda de raposa e o filho tinha de correr para tentar roubar a cauda e depois fazíamos ao contrário;
O jogo das estátuas em que tentávamos fazer com os nossos corpos o que a professora pedia (ex: uma casa, uma árvore...);
O jogo do relaxamento, em que os filhos faziam um relaxamento às mães (huuummmm tão bommmm), e aí recebi massagens, miminhos nas orelhas, um grande e delicioso abraço...
De seguida ainda houve tempo para ver o meu G. dar umas belas cambalhotas nos colchões!
Após a aula fomos para a sala ("mamã, vamos fazer uma corrida até à sala?" e lá fomos nós...) ver os presentes realizados pelos filhos e brincar um pouco livremente.
Eis que recebi: um belo saco para ir às compras pintado pelo meu G., um lindo postal com "uma poesia" que foi prontamente declamada pelo meu pequeno orador:
"A minha mãe
é uma flor do jardim
que cheira tão bem
e sorri para mim.
Fiz esta flor
com pedacinhos de amor
para dar à minha Mãe
e encher a sua vida de cor".
Recebi ainda um telemóvel em cartão com uma linda mensagem registada no seu visor:
"A minha mãe é muito querida e gosta muito de mim. A mãe é bonita. Gosto de toda a roupa que ela veste e tem o cabelo bonito. Ela brinca comigo. Gosto de ir com a mãe ao parquinho, andar de trotinete e jogar à bola. Muitos beijinhos."
Lindo... fiquei deliciada... são momentos como estes e mensagens como esta que me fazem acreditar que a vida merece, sem dúvida, ser vivida.
Amo-te acima de tudo, meu filho.
E ele claro, orgulhoso a mostrar todas as suas prendinhas e os trabalhos realizados ao longo do ano. Foi uma bela manhã!


Claro que me lembrei sempre e a todos os minutos da minha querida C. O sorriso nos lábios tentava esconder as lágrimas que por vezes quase queriam aflorar os olhos. São momentos que nunca partilharei com a minha filha. São momentos em que sinto tanto, mas tanto a falta que ela me faz. Como eu queria que estivesses aqui minha filha. Como eu queria que tudo tivesse sido diferente.
Como eu queria ter segurado o teu corpo cheio de vida ao invés de inerte.
Como eu queria ter vindo a correr para casa após esta manhã, saudosa de ti, e abraçar-te com força e cobrir-te de beijos.
Amo-te filha. Também e sempre acima de tudo. Para sempre. Mesmo com a vida entre nós.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Como cresce o meu G.!

O meu G. está um menino Grande! A perda da nossa bebé transformou-nos a todos, julgo que para sempre. De uma forma determinante.
O meu G. tornou-se mais independente. Percebeu que a dada altura precisávamos de espaço para estarmos mais sossegados e entregues aos nossos pensamentos (sobretudo eu, assumo... mas actualmente também o M., devido à situação do se pai...). Aprendeu a brincar sozinho. Aprendeu a gostar de ver alguns desenhos animados.
O meu querido G., que até há tão pouco tempo não dispensava a companhia dos pais para a menor brincadeira aprendeu a gerir o seu tempo quando tem de estar sozinho. Sei que por um lado é bom. Ele tem de adquirir alguma autonomia, dado que realmente estava mesmo muito dependente de nós... e nós dele. É salutar para ele...
Tenho pena que o motivo tenha sido a perda da nossa doce C.. Mas sei que para o G. foi importante aprender a gerir o seu tempo de forma autónoma.

Anda todo contente com o Dia da Mãe, que será celebrado na sexta-feira na sua escolinha com a presença de todas as mães para uma série de actividades divertidas, que incluem uma aula de ginástica para mães e filhos (isso é que vai ser... nem imagino... eu que não faço ginástica há anos! Será que ainda sei dar cambalhotas?).
Continua com uma criatividade incrível e o seu "ponto alto" continua a ser a fluência na expressão e raciocínio verbais. Na escola está óptimo: integrou-se maravilhosamente e o feedback por parte das educadoras é muito bom! Estamos muito tranquilos com a escolha que fizemos para a sua educação formal.
As suas brincadeiras favoritas actualmente são tipicamente masculinas e anda fascinado com os gormitis, bakugans e afins... Mas diga-se a bem da verdade que os seus desenhos animados favoritos são mesmo as WINX (sem comentários)...
Adora pregar partidas e faz do pai o seu companheiro de brincadeira favorito! O pai, esse, alinha em todas. Fazem uma dupla formidável que me enche o coração.

Como eu queria ter a minha doce C. nestes momentos. Penso sempre como seria se ela estivesse presente nas nossas vidas actualmente.
Amo-te filha. Para sempre.

sábado, 24 de abril de 2010

Um dia de cada vez

É assim que tenho vivido...
Continuo sem aceitar o desfecho que teve esta gravidez que tanto desejei. Este projecto de Vida que tanto queria abraçar.
A saudade e os outros sentimentos que me assolam por vezes são tão fortes que me deixam num estado de absoluto desespero.
Por outro lado vem o desejo de um 3º filho. Um projecto suspenso. Preso no nada. Um sonho adiado que me angustía pela distância...

Este ano os revezes da vida vieram bater-nos à porta. A 9 deste mês o meu sogro foi internado sem que nada o fizesse prever. O diagnóstico não tardaria. Grave. A impotência nas nossas mãos.
O sentimento de tristeza espelhado no rosto do meu M.. Que duras provas nos trouxe este ano, meu amor...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Continuo sem perceber

Continuo sem perceber e sem aceitar o porquê de ter ficado sem a minha C.
Como foi isto suceder? Como as coisas se transformaram desta forma?
Como é possível que tudo o resto continue e a minha C. tenha desaparecido, como se nunca tivesse existido?
Por vezes sinto-me desesperada. Não apenas triste... mas desesperada.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O meu G.

Por vezes penso que escrevo pouco sobre o meu G. Não que a perda da minha C. me tenha feito negligencia-lo.
Estou uma mãe diferente, sim. O meu sorriso não é tão rasgado. A minha espontaneidade não é tão pura. A minha entrega passou a ser partilhada (com uma filha que não está comigo fisicamente, mas que na verdade ocupa parte do meu coração de mãe... e dos meus pensamentos de mãe também...).
Mas continuo a estar com ele, a cuidar dele, a brincar com ele.
Ele nota que estou diferente, claro. Aproximou-se mais do pai, sobretudo para as brincadeiras...
Mas continua a ser o meu querido e amado G.. Quem me faz acreditar que tudo é possível e que a vida merece, sem dúvida, ser vivida.
É o seu sorriso que me conforta a alma e que dá sentido a cada minuto dos meus dias.
Digo-lho todos os dias num abraço apertado que o amo. Que é a coisa mais importante da vida da mamã.
Pergunta-me por vezes sobre a maninha. Espontâneamente. Respondo-lhe sempre tentando ser o mais natural possível. Fica angustiado com o facto de a maninha estar sozinha. Pergunta-me como é que vamos encontrar a estrelinha da maninha quando morrermos para podermos ficar juntos. Diz que gostava de ter um maninho, para a seguir perguntar: "e se esta sementinha também vier com um dói-dói?".
São momentos. Respondo-lhe com naturalidade, tentando tranquiliza-lo e explicar-lhe que a maninha está bem e feliz na sua estrelinha porque nos consegue ver e porque dessa forma não tem "aquele dói-dói no coração".

A sua inocência encanta-me.
Quase todos os dias me traz uma flor que apanha na rua. Sabe que me faz feliz.
Anda na era dos Gormitis, do Ben Ten, dos Bakugans e das histórias de lutas, cavaleiros, batalhas e dragões. O seu mundo de fantasia.
Há umas semanas dizia querer casar com a L. da sua escola, porque era amigo dela e porque ela é a menina mais bonita da sala ("tem cabelos louros mamã..."). Já mudou de ideias, agora diz que é a M. A., que por coincidência esteve na salinha dele na primeira escolinha que ele frequentou, entre os 17 meses e os 3 anos.
Desde que viu o filme "Como treinares o teu dragão", há cerca de 20 dias, anda entusiasmado com os dragões. Há 15 dias atrás, após a Missa, passámos a pé pelo McDonalds ali da Av. de Roma. Viu o cartaz dos dragões alusivos ao filme. Ficou encantado. Expliquei-lhe o que era o McDonalds e que aqueles dragões eram ofertas que vinham acompanhadas de batatas fritas e hamburgers ou pedacinhos de carne numa caixinha... Escusado será dizer... ficou fã. Até o pai já vai ao McDonalds, imagine-se...
O que o meu doce M. não faz para ver o filho sorrir e por me tentar animar...

É uma criança feliz. Vê-se. Sente-se.
Amo-o, do fundo do meu coração.
Quanto ao meu M., só uma expressão: o meu companheiro para a vida. Quem me abraça e percebe as minhas lágrimas com total empatia pelo meu sentimento. Quem tudo faz para me tentar animar. Admiro-o. Amo-o.

domingo, 11 de abril de 2010

Os pensamentos que me traem...

Não me largam.
Não saem de dentro da minha cabeça.
E se...
E se...
E se...
E se tivesses nascido com vida? Como seria?
Será que poderias ser feliz?
Será que o sofrimento não seria tão grande assim?
Será que as cirurgias não te deitariam abaixo?
Serias capaz de sorrir com uma felicidade vivida na sua plenitude e sem sofrimento?
Poder-te-ia abraçar no meu colo e sentir-te inundada de vida e sem dor?
Poderias não ter um final marcado?

O teu corpo, a tua face, tudo o que eu mais queria. Tudo o que eu mais desejava. Como um ser tão perfeito e belo aos nossos olhos poderia estar tão doente afinal?...

Se tivesses nascido na data prevista estarias já com mais de um mês. Quero-te tanto.
Amo-te, para sempre. Mesmo com a vida entre nós.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A vontade

E quando a vontade não existe?
E quando o nada fazer parece o melhor caminho?
E quando a falta de vontade para as coisas mais simples e que antes eram mais importantes para mim impera?
E quando o que não existe é precisamente o que tem a presença mais forte?
E quando a maior mudança na vida de uma pessoa é aquela que não existiu afinal?
Faltas-me tu, minha querida C.. A tua falta faz-me nada mais desejar...

Amo-te. Para sempre.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Casa Nova

Pois é...
Parece que finalmente estamos prestes a mudar de casa (provavelmente dentro de 3/4 semanas... talvez um pouquinho mais...).
Estes prazos são excelentes, considerando que seria suposto estarmos a viver na casa nova em Setembro de 2008. Após muitas complicações, licenças camarárias, obras e mais obras, mudança de empreiteiro pelo meio... parece que finalmente as coisas estão a terminar.
Neste processo todo tivemos sempre a grande ajuda do nosso amigo F (arquitecto) e da mulher, a minha querida X. São pessoas muito especiais para nós.
Conheci a X em 2001, no mestrado de Consulta Psicológica Familiar na FPCE, na Universidade do Porto, e desde aí nunca mais nos separámos. A distância não diminuiu a amizade e ela esteve sempre presente nos momentos mais importantes. Foi das primeiras a saber do meu namoro com o M., ficámos noivas na mesma altura, experimentámos vestidos de noiva juntas, casámos no mesmo ano, tivemos o primeiro filho no mesmo ano, foi a primeira a saber da possível gravidez da minha C.. Vou ser madrinha do 2º filho dela.
A X é minha irmã do coração. O F, o seu marido, "completa o pacote" de amigos perfeitos...
Eles nunca souberam, mas iam ser convidados para padrinhos da minha C.. Era meu desejo que a C. tivesse por madrinhas a minha irmã, a N., e a minha amiga X. O padrinho seria o F, em caso de ser possível ter 3 pessoas a apadrinhar a bebé.

A casa está quase pronta. Muitas coisas que planeava levar não irão connosco. São coisas de bebé. Roupas que guardei do meu G. (imensas), brinquedos, roupa de cama de grades, mobiliário, carrinho de bebé, espreguiçadeira... e muito mais coisas... tantas... Não acho que seja altura de as transportar connosco... Se tudo isto não tivesse acontecido com a minha C. claro que fariam parte do rol... mas assim não.
Aliás, julgo que quando tiver outro filho (espero que Deus mo permita) só irei organizar as coisas após o seu nascimento. Antes disso não monto quarto, nem berço, nem trago todas estas coisas para casa. Há tempo... Julgo que terei o essencial apenas, isto é, roupa para os primeiros dias. Nada mais. Tudo o resto pode fazer-se e preparar-se após o nascimento.
A roupinha que comprei especialmente para a C., essa, claro que vai comigo para a casa nova. Uma vez mais: não estou preparada para abdicar de mais este pedaço da minha filha. Ficará na sua caixinha e será sempre importante para mim.
Coloca-se agora a questão: onde deixar todas as outras coisas (que foram do meu G.) sem que se estraguem? Não temos garagem nem arrecadação e o mais provável será ter de levar todas essas coisas para Coimbra, para casa dos Avós C. e E....

domingo, 28 de março de 2010

Fim-se-semana

Foi o fim-de-semana que marcou o início das férias da Páscoa. Uma vez mais decidimos que o nosso G. fica em casa neste período. Achamos que a interrupção lectiva lhe faz bem. Apesar de o colégio não fechar, há poucos meninos e não há actividades estruturadas. As educadoras vão rodando e é formado um grupo com os meninos das diferentes salas. Se houve alturas em que não tive outra solução, desde que passámos a ter o apoio da T. cá em casa, que temos conseguido gerir horários e rodar entre mim, a T. e o M. para ficarmos com o G.. Ele fica todo contente por ter as atenções todas...
Na próxima semana a T. está de férias. Vai ser a prova de fogo para mim... tanto tempo só com o meu G.
Quem diria que algum dia eu recearia passar tanto tempo integralmente com ele? Eu, que sempre fiz de tudo para passar todo o tempo possível com o meu filho... mas na verdade é quando estou integralmente no meu papel de mãe que percebo tudo o que ficou por dar à minha C. ... Vou-me sempre abaixo... Falta-me um dos meus dois filhos...

O Avô B. e a Avó S. vieram cá passar o dia de ontem com a titi N.. Foi bom...
Custa-me sempre perceber que vão angustiados por não me sentirem como antes: solta, verdadeiramente alegre, com um sorriso sincero e sentido no rosto...

Hoje fomos almoçar à praia, após a missa. Estava imenso calor. Um peixinho óptimo e o G. a brincar descalso na areia mesmo ao lado da mesa. O meu menino feliz. Soube bem... O barco pertencente ao restaurante pousado no areal tinha escrito o teu nome, minha C. ...
Quando voltámos uma encomenda aguardava à porta de casa: era do nosso futuro afilhado, o pequeno P., Enviou-nos (pela mão dos pais, claro) um lindo vaso com dois pés de orquideas brancas - não fosse hoje do Dia das Madrinhas... Reconfortou-me o coração...

Domingo de Ramos

Foi hoje.
Está cá o ramo em casa. A missa foi linda.
Ficou a vela acesa por ti, minha doce C.. Como sinto a tua falta... É uma saudade que dói. Sente-se no corpo, como uma ferida aberta que não sara.

Hoje consegui finalmente comprar as 4 Tulipas Brancas... As que estavam na jarra no meu quarto murcharam no início da semana e corri várias floristas à procura de Tulipas Brancas... havia rosa, amarelas, champanhe... mas as nossas Tulipas Brancas não se encontravam em lado nenhum... sabia que numa florista grande aqui perto de casa iriam receber flores hoje da Holanda... e lá estavam elas... as Tulipas Brancas.
Fico sempre ligeiramente mais reconfortada quando as tenho no meu quarto, junto ao teu anjinho, minha querida.

Será que esta dor algum dia vai acalmar?
Como foi possível isto acontecer? Queria-te tanto... quero-te tanto. Tu sabes tudo o que te digo nestas palavras, minha filha...

Amo-te, para sempre... mesmo com a vida entre nós...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Arrumar roupinhas de menina

Minha doce C.,

Hoje fiz o que não queria. A par com lágrimas e forçando uma vontade que não existia... peguei nas tuas roupinhas que aguardavam ser vestidas por ti, dobrei-as, embrulhei-as em papel de seda azul e guardei-as uma por uma.
Não me separarei delas. Ficarão numa linda caixinha. Acompanha-me-ao e serão preciosas para mim. Logo se verá no futuro o que farei. Para já esta é a minha decisão. De modo algum estou preparada para abdicar de mais este pedaço de ti, minha filha.

Amo-te. Para sempre.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A causa...

A minha C. tinha uma "má formação cardíaca complexa grave"; foi o que nos informaram naquele 11 de Janeiro que nunca esqueceremos. Não sobreviveu para que eu a pudesse abraçar e proteger de todos os males...
O certificado de óbito que nos foi entregue na maternidade referia como causa de morte a mesma expressão: "má formação cardíaca complexa grave"...

Não quisemos correr mais riscos. Sabemos que o G. sempre foi uma criança saudável. Mas também encontrámos alguns estudos que referem que pais de crianças com este tipo de cardiopatia congénita têm uma probabilidade ligeiramente superior (2/3%) de ter outra criança com algum problema cardíaco (ainda que possa ser de muito menor gravidade). Hoje o G. foi fazer um exame cardíaco completo com ecocardiograma.
Recorremos ao mesmo cardiologista pediatrico que nos fez o ecocardiograma fetal na Maternidade, agora pelo privado, claro. Está optimo! Felizmente!
O cardiologista não achou disparatado termos ido fazer uma avaliação cardíaca ao G. (como eu receava). Foi simpático com o pequeno. Disse-lhe que ia ver o Ben Ten no monitor ecográfico e os Gormitis também! O G. ficou todo entusiasmado, claro! Claro que só viu manchas... Lá inventei que estava muito nevoeiro no monitor e não dava para ver bem os seus heróis... Aceitou a explicação, na inocência dos seus 4 anos. Ainda bem. Ele sabe que a maninha partiu para o Céu porque "tinha um dói-dói no coração" e por isso não lhe queriamos dizer que o exame que ia fazer era do foro cardíaco (para ele não associar). Correu bem.
Sobretudo, fiquei muito aliviada por saber que o coração do meu "menino grande" está bem!

Hoje foi também dia de Missa por Intenção à nossa C.. Fomos eu e o M., como a todas as que marcamos pela alma da nossa menina. Amo-te minha filha. Para sempre.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Avanços ou recuos?

Já passaram 2 meses desde que nasceu a minha C.. Foi no dia 22.
Fui à missa uma vez mais.
Ir à missa faz-me sentir bem. Acho que já aqui escrevi que não peço por mim... peço pela minha filha. Peço que esteja bem, e que Nossa Senhora a acolha no seu regaço.
Que a proteja e lhe dê o amor de mãe que eu não dei...
Deixo sempre uma vela acesa.
A saudade inunda-me sempre... os outros sentimentos também...

Queria tanto o impossível. Queria tanto a minha filha aqui, comigo. Hoje tive uma vez mais consulta de Psicologia na Maternidade. Falávamos a respeito desta saudade. Do desespero que eu sinto por não saber onde ela está. Dos receios que sinto também pelo facto de não ter podido baptizar a minha bebé.
A Psicóloga comentou a esse respeito que ela existia dentro de mim... perguntou-me se eu não sentia isso... Não. Não consigo sentir isso. Talvez venha a senti-lo um dia. Mas actualmente não sinto isso de todo. Dentro de mim sinto todas as minhas emoções: a saudade, o desespero, o não querer, a culpa. O Amor que lhe tenho. Mas não a consigo sentir dentro de mim... Se ela estivesse dentro de mim não havia o que recear...

Soube este fim-de-semana que a R. (que conheço pessoalmente), que perdeu uma menina em Novembro passado aos 7 meses de gestação se encontra novamente grávida. Fico muito feliz por ela. Infeliz por não poder partilhar da alegria dela.
Ontem tive consulta com o Dr. A.. Foi ele quem me acompanhou na maternidade. Foi a ele que escolhi para me acompanhar de agora em diante.
Seguro, pragmático, conhecedor, competente, cauteloso. O reconhecimento que existe na praça acerca das suas competências enquanto médico é justíssimo. Falámos abertamente acerca de tudo o que se passou. Examinou-me ao pormenor. Falei-lhe do meu desejo de ter um terceiro filho (perdoa-me, C.). Só aconselha a partir de Julho.
Fico triste. Parece-me uma eternidade. Sei que não o é. Mas é o que sinto.
Tenho o colo meio vazio e uma imensidão de amor que ficou suspenso no nada. Sim, este amor é da minha C., mas preciso materializar estes sentimentos. Preciso pegar um filho recem-nascido nos meus braços e senti-lo com vida. Sentir que é meu para sempre. Que o posso proteger. Que me reconhece. Que se aninha no meu colo, que reage.

Hoje acordei triste. Ontem estava tão ansiosa com a consulta e desejava tanto ouvir que posso ter outro filho que pensei de menos na minha C.. Foi o primeiro dia desde 11 de Janeiro que não chorei por ela. Perdoa-me. Amo-te filha.
Para sempre.

domingo, 21 de março de 2010

Saudade

A saudade de te sentir inunda-me.
Não consigo e não quero esquecer o teu corpo nos meus braços. Parece-me irreal... como pude segurar uma filha sem vida nos braços?
Quero tanto sentir-te novamente nos meus braços.
Sinto tanto a tua falta.
A falta do que não tive. Do que ficou por viver.
Ouço notícias dos outros bebés. Os que nascem com vida. Os que são gerados. Fico feliz por eles e pelos que os amam. Fico triste, tão triste por não te ter aqui também.
Apetece-me gritar. Gritar tão alto de tal forma que o meu desejo se transforme em realidade... mas sai-me uma voz silenciosa... por saber que não é possível... sai-me um: "Volta...", um "Acorda para mim" triste, pobre, entre lágrimas.

Todos desejam que eu fique bem. Que retome a minha vida. Que fique feliz. Não consigo acompanhar tais desejos. Não consigo percebe-los e integra-los dentro de mim de modo a fazerem sentido. Vou retomando aos poucos uma rotina... mas a saudade e a tristeza inundam-me quando me apercebo que a tua ausência é real e para sempre. É como um murro seco que bate no meu peito e aí deixa um peso. É uma saudade que se sente.
no corpo; é física.
Não consigo. Não aceito e não quero aceitar esta realidade. Fazes-me falta.
Alivia-me chorar. Alivia-me aqui escrever o que não posso dizer.

O M. tem sido um verdadeiro companheiro e vivemos a perda da nossa bebé e todo o processo a dois. Verdadeiramente a dois. Unidos na dor e no amor que te tínhamos... que te temos...
Sempre me acolheu no seu abraço e percebeu os meus sentimentos. Actualmente começa a ter necessidade de que eu fique melhor. E eu estou melhor. Sim. Melhor no sentido que todos desejam que esteja. Mas mesmo assim... sinto necessidade de falar de ti. De te manter presente de alguma forma. O teu pai neste momento começa a precisar de silêncio a respeito de ti. Sim, sei que pensa a cada segundo em ti. Mas falar... custa-lhe.
A mim custa-me não falar com ele sobre ti. Ouve-me e diz-me que compreende e percebe a falta que sinto de ti. Mas não fala. Não inicia uma conversa sobre ti. Sim, sei que não há muito a dizer... mas na verdade não quero que desapareças.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dia do Pai

Amanhã é o dia do Pai.

Quantos filhos tem este pai?
um? dois?

O noso G. está todo contente, pois amanhã os pais vão passar a manhã à escola e fazer actividades com os filhotes. "Vamos fazer um papagaio, mamã, mas é segredo, o papá não pode saber..." diz-me ele baixinho e todo contente ao ouvido.
Desde há uma semana para cá que a sua brincadeira favorita é embrulhar carrinhos, canetas e afins e presentear o "papá lindo" (como lhe chama por vezes).
Anda excitadissimo com o dia do pai.
Hoje fui comprar uma prendinha para o pequeno lhe dar amanhã. Não pude deixar de pensar que a minha C. não está cá... por esta altura já teria nascido. E seria um dia do pai tão mais felíz com a presença dela... como a perspectiva da tua vinda nos deixava felíz, minha filha...
Como lamento que não estejas aqui connosco para partilhar o dia de amanhã e todos os outros.
Perdoa-me.
Comprei também Tulipas Brancas. Raros são os dias em que as não tenho no meu quarto. Junto ao anjinho em prata...

segunda-feira, 15 de março de 2010

O meu G. está um menino grande!

Está mais que comprovado! O meu menino está grande. "Deu um pulo" e cresceu de repente... Em maturidade e em altura!
A caminha dele ainda era a que desenhei e mandei fazer antes de ele nascer. Tinha um tamanho grande e dava para retirar uma grade lateral, de modo a que conseguisse entrar e sair sozinho da caminha.
Fui protelando a compra de uma cama maior, dado que há quase 2 anos que esperamos trocar de casa (as obras nunca mais estão prontas...). Assim, fui adiando a compra de uma cama nova de modo a que houvesse menos um móvel para trocar nas mudanças.
A caminha era grande e ia dando... colocava todas as noites um "sofá cambalhota" aberto junto à lateral da cama para a eventualidade de ele cair da camita.
Depois engravidei... a minha doce C. vinha a caminho. A caminha de grades iria fazer parte das mudanças!! Mas para o quartinho que escolhi para a minha C.
Ao meu G. prometi uma caminha nova para a casa nova! E há muito que está escolhida: "uma cama de escadinhas" - entenda-se, um beliche!
Esta noite foi a prova que o meu G. cresceu... por 3 vezes fui apanha-lo no "sofá-cambalhota" e quase a cair deste para o chão.
Rendi-me às evidências... Não pode continuar a dormir na caminha de grades. Passei o dia a escolher colchões, edredons, capas de edredão e lençóis (não tinha nada de solteiro) - valha-nos o IKEA.
Cheguei a casa e coloquei na máquina de lavar e secar um conjunto de capa de edredão e lençol. Estendi o colchão sobre uma carpete limpa e sem pelo. Estou à espera que fique tudo bem seco para ir fazer a cama e o levar a dormir já no novo colchão.
Ele já adormeceu aqui no sofá da sala. Adormeceu ainda antes das 21.00, cansado da escola e da aula de natação ao final do dia.
Não comprei ainda a famosa "cama de escadinhas" mas já está escolhida! Vai directo para a casa nova (quando estiver pronta...). Até lá terá de dormir apenas no colchão... dado que se prevê que as obras estejam prontas ainda na primavera (a ver vamos...).
A cama de grades, essa, já não fará parte das mudanças. Vou desmonta-la. Não sei que fazer com ela para já. Espero que em breve tenha um destino para ela. Sei que vou desejar ter um terceiro filho nos braços. Vivo. São. Meu para sempre. Que me reconheça e se aninhe no meu colo quando o abraçar.
Perdoa-me, minha filha... tu sabes tudo o que te digo nestas palavras...

Dado que hoje de manhã pretendia ir ao IKEA fazer estas compras (que decidi durante esta noite), fui com o M. levar o G. à escolinha. Quando cheguei estava cá fora um autocarro, mas nunca pensei que fosse da turminha dele (geralmente têm passeio de 15 em 15 dias às terças). Entrei no colégio com ele quando soube que afinal tinham acabado de sair para o jardim botânico... Os olhinhos do meu menino começaram logo a brilhar de lágrimas. Não hesitei e perguntei onde era o jardim botânico. No Príncipe Real, disseram-me.
Lá fomos nós descobrir onde seria o Príncipe Real e o tal jardim... ao fim de algumas voltas lá demos com o dito... Toca a encostar o carro, tirar o miúdo, vestir casaco, correr para o jardim... e afinal não estavam ali. Perguntei se havia outro jardim botânico. Sim, respondeu-me o vigilante, na Ajuda.
Corremos para o carro. Cadeira com ele. Põe o cinto. Toca a andar. Ligo para a escola e confirmo que afinal é no jardim botânico da Tapada da Ajuda.
O pai diz que sabe onde é. Chegamos e eu digo que acho que não é ali... que aquele é o jardim tropical... o pai tem a certeza que é aquele. OK. Rendo-me.
Toca a encostar o carro, tirar o miúdo, vestir novamente o casaco, correr para o jardim... e não é ali... aquele é mesmo o jardim tropical.
Lá nos explicam onde é o jardim botânico (ali mesmo perto, ao cimo da Calçada do Galvão, onde viveu a minha avó materna). Toca a entrar no carro. Cadeira com ele. Por o cinto. Sentar. Retomar a marcha.
Chegamos novamente... tudo de novo... sair e correr para o jardim. Sim, estão lá, confirma a vigilante. Corremos na direcção que nos indica. Ainda vemos um labirinto de arbustos, ficou encantado e pediu para ir brincar para lá um dia. Respondo que sim.
Ao fundo avistamos os amigos. Corre entusiasmado na direcção deles! Sorriso rasgado! Atira-se ao colo da educadora e da auxiliar. Logo em seguida corre a contar as aventuras da viagem aos amigos. Enche-me a alma -lo assim.

Amo-te meu filho, digo-to num abraço apertado.
Amo-te minha filha, digo-to com um céu de distância entre nós... Tão longe e no entanto aqui tão perto... dentro do meu coração. Para sempre.

domingo, 14 de março de 2010

Mais um fim-de-semana

Os dias continuam a passar.
A dor permanece e a saudade aumenta.

Tento dar-me mais ao meu G.. A consciência pesa-me. Sei que lhe tenho dado menos.
Noto-o diferente. Percebe que não estou tão disponível; brinca mais sozinho. Procura-me mais para lhe dar um miminho.
Por vezes parece-me mais tristonho. É um sentimento que não lhe conhecia. Sempre foi um menino alegre, feliz, sorridente e de bem com a vida. Custa-me que se aperceba que estou diferente e que a vida tem estes revezes...
Quando lhe disse, no dia 24 de Janeiro, que a maninha tinha ido para o céu porque tinha um dói-dói no coração ficou tristinho.
Perguntou-me se eu já não tinha barriga. Perguntou-me se quando a maninha tivesse 4 anos, como ele, o coração também ia doer, e se quando "fosse grande" também ia doer.
Perguntou-me porquê que tinhamos comprado uma sementinha com um dói-dói no coração.
Disse-me que estava triste, que sentia saudades da maninha e perguntou-me como é que iamos saber qual era a estrelinha da maninha...
Respondi a tudo sem chorar. As dúvidas inocentes dos seus 4 anos. A tristeza nos seus olhinhos. Uma informação com um peso que aos 4 anos ainda não se pode, nem se sabe avaliar. E ainda bem que assim é.
Reparou claramente que a minha postura mudou.Que passava mais tempo no quarto, que nem sempre me deslocava à mesa para jantar. Deu-me um bonequinho seu "para me animar"; trazia-me iogurtes que "roubava ao frigorífico" e que me entregava acompanhados de um beijinho, "para comeres quando tiveres fome, mamã", dizia-me.
Amo-te meu filho. Como o teu sorriso me conforta a alma e me enche o coração...

Ontem fomos à praia de manhã com ele. A primeira vez que aceitei um convite para um "programinha": fomos com a mãe do Jõao Maria e da Madalena aqui do bairro brincar à praia. Conhecem-se desde que tinham meses. Adoram brincar juntos. Gostaram. Muito.
Vi-o de mão dada com a Madalena, mais pequena do que ele, numa postura protectora. Subiu para cima de uma rocha e disse-me: "mamã, estou aqui a tomar conta da Madalena para ela não subir; ela é pequenina e pode-se magoar"... como gostaria de o ver assim com a sua maninha.

Hoje fui uma vez mais à missa. Não peço por mim. Acho que nunca mais pedirei por mim. Peço à Virgem Maria que acolha nos Seus braços a minha doce C.. Que a proteja e lhe dê guarida. Que a embale e receba no Seu coração de Mãe. A Mãe que eu não fui.
Ficou a vela acesa. Vim-me embora. Sozinha.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Regresso ao espaço de trabalho...

Não tinha retornado desde 8 de Janeiro... a ultima sexta-feira "normal" que tive. Na segunda-feira seguinte fui fazer a ecografia morfológica das 32 semanas. 11 de Janeiro.
Nunca mais lá voltei. Foi o dia em que tudo mudou.
Fui a pedido da minha coordenadora, que após a minha manifestação de intenção de regressar ao trabalho no início de Abril, me solicitou que lá passasse primeiro, para eu avaliar como me sentiria.
Foi... difícil. Muito.
Fui no horário pós-laboral. Tive o cuidado de escolher um dia em que estivessem lá muito poucas colegas e que fossem aquelas com que me dou melhor...
A última vez que cruzei aquela porta estava tão feliz... Tinha a minha menina a caminho. Ela estava bem e tudo na minha vida parecia maravilhoso: tinha o meu G. bem, com a alegria que o caracteriza e feliz no seu novo colégio (o que muito me tranquiliza) e o meu M. no seu de sempre - maravilhoso e de bem com a vida.
Tinha acabado de passar a contrato sem termo no meu trabalho, depois de tanto sacrifício para ter uma situação profissional minimamente estável e regular.
Recordo-me de na passagem de ano pensar: "foi um ano muito, muito bom; estou feliz". De na passagem de ano desejar em silêncio muita felicidade e tudo de bom para o meu G., a luz da minha vida, para o meu M., para os meus pais e irmã. À minha doce C., que ansiava aconchegar nos meus braços, desejei "uma boa vinda" para a nossa família. Que fosse uma menina feliz.... que partilhasse da nossa alegria...

Regressar ao trabalho... é algo que anseio muito por um lado... sempre gostei de trabalhar e nunca me imaginei em casa. Preciso e é importante para mim ter o meu trabalho. Mais do que uma necessidade económica, claro, é uma necessidade pessoal. Gosto de ter uma vida profissional e de nela investir. Se gostaria de trabalhar menos horas e dispor de mais tempo para a família? Sim, claro que sim; sem dúvida! Mas abdicar da minha actividade profissional, isso nem pensar...
Mas neste momento voltar ao trabalho é algo que me assusta verdadeiramente. Tenho receio de não "estar à altura" de responder a todas as solicitações; de não aguentar viver o regresso ao trabalho enquanto a minha doce C. está no meu pensamento a todos os minutos...
Tenho medo de não "dar conta do recado".
Tenho receio de me confrontar com as 2 colegas grávidas; com as que planeiam ficar gravidas este ano e com a que vai regressar de licença de maternidade este mês. Soube hoje que a 3ª colega grávida teve o seu bebé ontem; um menino com o mesmo nome do meu G. (que seja feliz... muito). Não fico triste por elas terem uma alegria e um privilégio que eu não tive; fico triste por mim, por não poder ter a minha doce C. aqui, nos meus braços.
Por apenas lhe dizer em silêncio o que todos os dias digo em voz alta ao meu G. quando o abraço e o beijo: "A mamã adora-te; és a coisa mais importante da vida da mamã. Vou amar-te sempre!"

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mais um dia

Passa mais um dia.
Conto os dias. Mas é uma contagem sem sentido. Sempre com o mesmo significado: ela continua a não estar aqui. E a ausência dela deixa-me uma angústia, um desespero, um não querer acreditar, um recusar-me a aceitar. Dói. Cá dentro.

O meu G. está doentinho. O normal e recorrente nele. Expecturação, alguma tosse e febre. Geralmente passa em 2/3 dias.
Para mim, foi um dia puxado.
O M. trabalhou até tarde e o pequenote ficou comigo em casa.
Antes dava tudo para ter um dia da semana que pudesse passar inteirinho com o meu G.. Nunca o levei ao colégio num dia em que não trabalhasse. Todos os momentos livres eram prioritariamente para o meu G.. E como isso me deixava feliz!
Actualmente a minha capacidade para passar um dia inteiro com ele é muito, muito reduzida. Sinto-me triste, sem vontade de fazer o que quer que seja... como estou diferente. Não me reconheço. E ao escrever apercebo-me como estas são palavras que não eram típicas do meu vocabulário. Não são expressões do que eu sempre fui.
Mas claro que fiquei com ele e tentei ao máximo dar-lhe toda a atenção. Brincámos, fizemos puzzles, fizemos pudim, desenhos... ao fim do dia estava no meu limiar. Precisava do meu bocadinho para pensar e chorar a minha C.
Adormeceu cedo. Estava cansadinho, tadinho do meu menino querido.
Debrucei-me sobre os meus pensamentos e sobre os meus sentimentos. Chorei. Chorei muito. A angústia que a falta da minha C. me traz é indescritível.
O que fazer com os vestidinhos, com os sonhos, com os projectos, com o sentimento? Se ela partiu, porque é que me parece tão real? Porque é que o amor que lhe sinto é tão real?

Percebo cada vez com mais clareza, que mesmo não estando cá a minha C. a mudança que ela trouxe à minha vida foi e será sempre brutal e fulcral. Não existo como antes. Não voltarei nunca ao que era antes. Com toda a certeza. Existo em 2: o antes da minha querida C. e o depois da minha C.
Como eu te queria beijar todos os dias à noite antes de adormeceres como faço com o teu maninho...
Amo-te, meu doce.

domingo, 7 de março de 2010

Uma manhã para o meu G.

Ontem à noite escrevi e reflecti. Reflecti muito. As saudades da C. inundam o meu coração, o meu pensamento e tudo o que eu faço desde aquele 11 de Janeiro em que soube que estava doente. Que o seu coração era frágil. Que poderia não suportar.

Desde então que a minha entrega e dedicação a todos os outros caiu. Não tenho a mesma capacidade. Não consigo. Não quero.
No meio de tudo isto está o meu G., que eu tanto amo. Acima de tudo. Sei-o, Amo-o.
Tenho pequenos momentos em que consigo estar com ele e dar-lhe a devida atenção que ele merece. Mas são poucos. Mas não é com a mesma alegria e entrega.
Sei que ele o sente. Não o diz. Não percebe bem o porquê. Mas sabe que a mamã está mais triste. Menos disponível. Acomoda-se. Percebe.
A consciência pesa-me.
Sim, estou com ele todos os dias. Visto-o para ir para a escola, levo-o à natação, dou-lhe o jantar, adormeço-o. Mas sem a mesma entrega e paciência.
Faltam as brincadeiras pelo meio e o sorriso rasgado na minha cara.
Tento esforçar-me, a sério que tento. Mas sei que não é a mesma coisa.
Vale-me o meu M.. Que no meio da sua dor encontra espaço para me confortar e encontra espaço para cobrir as minhas falhas. Sobretudo no que respeita ao nosso filho.
Está quase sempre com ele. Encarrega-se da maioria das coisas. Assume o que me seria devido.

Ontem pensei e decidi: por mais que me custe amanhã de manhã tenho de estar mais disponível para o meu G.. Tenho de estar verdadeiramente disponível e não apenas de corpo presente.
Levantei-me pelas 9.00. Já eles estava acordados há mais de uma hora. Acordei a sonhar com a minha C.. A minha doce C.. Dei o beijinho de bons dias no meu anjinho em prata. fiquei uns minutos a pensar na minha querida C. e na falta que ela me faz.
Levantei-me e cumpri o que prometi: pintei aguarelas, fiz construções com os blocos de madeira e fiz bolinhos no forno, tudo com o meu G.. Com um sorriso um pouquinho mais rasgado e com uma paciência que não me tem sido característica.
O G. ficou contente. Fiquei contente por ele.

Ao almoço quebrei outra vez. Falta-me a minha C. nestas aventuras de Domingo em família. Vai faltar-me sempre a minha C.

sábado, 6 de março de 2010

O Início

Tantas vezes ensaiado.
Tantas vezes pensado. Porquê hoje? Porquê neste momento?
Porquê dar o passo hoje quando em tantos outros dias pensei iniciar um relato das minhas experiências?
Tantos momentos alegres e tantas experiências felizes para relatar. E é neste momento que inicio este relato.
Talvez porque me sinto só e porque quero estar só. Talvez porque tenha necessidade de falar para mim mesma.

Inicio este relato para mim. Só eu perceberei a amplitude do que aqui escrever. Só eu alcançarei o significado das minhas palavras.
A dor e o sofrimento que vivo neste momento. A perda. O não querer.



Somos 4.
Além de mim, tenho o M., o meu companheiro nesta viagem, Quem me tem limpo as lágrimas, quem chora comigo, quem compreende e sente toda esta dor. Um companheiro para a vida. O meu "porto seguro". O meu marido.
Tenho o meu G., a luz da minha vida. O meu menino lindo que me faz acreditar que tudo é possível e que a vida merece, sem dúvida, ser vivida. Por ele tudo. Por ele a vida.
A sabedoria dos seus 4 anos. A imaturidade e a inocência da sua idade. A sua alegria. O seu sorriso. O meu tudo. O meu filho.
Falta-me a minha C., a minha menina. Oh, como me falta. Da minha C. que eu tanto amo e tanto quero falta-me tudo. Falta-me a vida dela. A minha filha.



É sobre C. que preciso escrever hoje.
É ela quem me tem inundado o pensamento. É ela que não estando presente esta-o sempre. Esta-o de uma forma avassaladora. O não existir mais real. O existir sem cá estar.
Penso nela e soltam-se palavras que a minha garganta não solta. Palavras que grito em silêncio: AMO-TE, QUERO-TE, ACORDA PARA MIM, VEM ANINHAR-TE NO MEU COLO. Vem por favor encher o meu regaço, que está meio cheio, meio vazio.
Fazes-me falta.
Não te sinto o cheiro, não te sinto o calor.
Não te ouço chorar. Chora para mim. Chama-me.
Não te acalmo. Não te conforto. Não te alimento. Não te dou guarida nos meus braços. Não te embalo. Não te beijo.

A minha filha. A minha menina.
Adorei cada vestido que te comprei. Delirei com cada sapatinho. Com os folhinhos. Com o cor-de-rosa. Os sonhos criados, os projectos planeados. A tua realidade. A tua certeza. Eras minha. És minha.

O teu berço estava montado no meu quarto à tua espera.
As tuas roupas lavadas. Dobradas. Aguardando ser vestidas por ti.
Como eu sonhava que fossemos 4. Sempre.
Estavas quase a vir aos meus braços. Eras uma certeza para mim.

Ter-te...
O parto normal que eu receava. Já não havia o que recear. Não havia mais perigos para ti.
O 22 de Janeiro. Não te ouvi chorar.
Ao escrever sobre o dia em que nasceste lembro-me do dia em que o teu irmão nasceu. estava tão feliz. Sem receios. Sem medos. Só uma felicidade inocente. Pura. Sentida ao limite.
E quando nasceste minha amada... Tristeza, dor, o desejar que não fosse.
Perdoa-me.
Vi-te sair de mim. Não choraste. Chorei eu. Chorou o teu pai. Levaram-te envolta num lençol.
Pedi-te. Quis-te. Trouxeram-te e aconcheguei-te no meu colo. Não te aninhaste. Não me reconheceste. Não te acalmaste. Não reagiste.
Linda.
Frágil.
Pequenina.
Menina.
MINHA.
Sem vida.
Pedi um padre. Veio. Não te baptizou. Não podia. Benzeu-te e disse-me que estavas nas mãos de Deus.

E o regressar... quando a mudança maior é aquela que não existiu. Quando tudo está igual mas na verdade diferente para sempre. Faltas-me tu, minha querida.
Sim, voltei. Mas não trouxe a minha filha para casa. Trouxe um anjinho em prata que me deu a tua avó. A minha mãe. Esteve contigo quando nasceste, pousado no teu peito. Foi benzido contigo.
QUERO-TE.

A 28 levei-te a cremar. Uma urna pequenina. Branca. Como uma caixa de bonecas.
A minha bebé lá dentro. Junto a ela as fotografias, a carta - uma tentativa vã de estar mais proxima dela; de traze-la para mais próximo de nós. A explicação. A tentativa de colocar os sentimentos num papel.

O teu primeiro e ultimo vestido. Os teus sapatinhos em lã com uma florinha em lã. O cor-de-rosa. A mantinha. A touquinha branca. O vestido escolhido pela avó. Escolhido para te envolver no teu primeiro dia de vida; cobriu-te quando a não tinhas...
4 Tulipas nas tuas mãos, uma por cada um de nós os 4. Uma fita de cetim branco a envolve-las.
14 Tulipas pousadas sobre o teu primeiro e ultimo leito, por cada um de nós os 4, pelos avós, pelos tios e pelos primos. O teu anjinho em prata junto a elas.
Tulipas Brancas.

Não queria que tivesse sido assim. Queria-te tanto. Quero-te tanto.
Amo-te. Para sempre.