"Life is not about waiting for the storm to pass. It's about learning to dance in the rain"

Vivian Green


quarta-feira, 31 de março de 2010

Casa Nova

Pois é...
Parece que finalmente estamos prestes a mudar de casa (provavelmente dentro de 3/4 semanas... talvez um pouquinho mais...).
Estes prazos são excelentes, considerando que seria suposto estarmos a viver na casa nova em Setembro de 2008. Após muitas complicações, licenças camarárias, obras e mais obras, mudança de empreiteiro pelo meio... parece que finalmente as coisas estão a terminar.
Neste processo todo tivemos sempre a grande ajuda do nosso amigo F (arquitecto) e da mulher, a minha querida X. São pessoas muito especiais para nós.
Conheci a X em 2001, no mestrado de Consulta Psicológica Familiar na FPCE, na Universidade do Porto, e desde aí nunca mais nos separámos. A distância não diminuiu a amizade e ela esteve sempre presente nos momentos mais importantes. Foi das primeiras a saber do meu namoro com o M., ficámos noivas na mesma altura, experimentámos vestidos de noiva juntas, casámos no mesmo ano, tivemos o primeiro filho no mesmo ano, foi a primeira a saber da possível gravidez da minha C.. Vou ser madrinha do 2º filho dela.
A X é minha irmã do coração. O F, o seu marido, "completa o pacote" de amigos perfeitos...
Eles nunca souberam, mas iam ser convidados para padrinhos da minha C.. Era meu desejo que a C. tivesse por madrinhas a minha irmã, a N., e a minha amiga X. O padrinho seria o F, em caso de ser possível ter 3 pessoas a apadrinhar a bebé.

A casa está quase pronta. Muitas coisas que planeava levar não irão connosco. São coisas de bebé. Roupas que guardei do meu G. (imensas), brinquedos, roupa de cama de grades, mobiliário, carrinho de bebé, espreguiçadeira... e muito mais coisas... tantas... Não acho que seja altura de as transportar connosco... Se tudo isto não tivesse acontecido com a minha C. claro que fariam parte do rol... mas assim não.
Aliás, julgo que quando tiver outro filho (espero que Deus mo permita) só irei organizar as coisas após o seu nascimento. Antes disso não monto quarto, nem berço, nem trago todas estas coisas para casa. Há tempo... Julgo que terei o essencial apenas, isto é, roupa para os primeiros dias. Nada mais. Tudo o resto pode fazer-se e preparar-se após o nascimento.
A roupinha que comprei especialmente para a C., essa, claro que vai comigo para a casa nova. Uma vez mais: não estou preparada para abdicar de mais este pedaço da minha filha. Ficará na sua caixinha e será sempre importante para mim.
Coloca-se agora a questão: onde deixar todas as outras coisas (que foram do meu G.) sem que se estraguem? Não temos garagem nem arrecadação e o mais provável será ter de levar todas essas coisas para Coimbra, para casa dos Avós C. e E....

domingo, 28 de março de 2010

Fim-se-semana

Foi o fim-de-semana que marcou o início das férias da Páscoa. Uma vez mais decidimos que o nosso G. fica em casa neste período. Achamos que a interrupção lectiva lhe faz bem. Apesar de o colégio não fechar, há poucos meninos e não há actividades estruturadas. As educadoras vão rodando e é formado um grupo com os meninos das diferentes salas. Se houve alturas em que não tive outra solução, desde que passámos a ter o apoio da T. cá em casa, que temos conseguido gerir horários e rodar entre mim, a T. e o M. para ficarmos com o G.. Ele fica todo contente por ter as atenções todas...
Na próxima semana a T. está de férias. Vai ser a prova de fogo para mim... tanto tempo só com o meu G.
Quem diria que algum dia eu recearia passar tanto tempo integralmente com ele? Eu, que sempre fiz de tudo para passar todo o tempo possível com o meu filho... mas na verdade é quando estou integralmente no meu papel de mãe que percebo tudo o que ficou por dar à minha C. ... Vou-me sempre abaixo... Falta-me um dos meus dois filhos...

O Avô B. e a Avó S. vieram cá passar o dia de ontem com a titi N.. Foi bom...
Custa-me sempre perceber que vão angustiados por não me sentirem como antes: solta, verdadeiramente alegre, com um sorriso sincero e sentido no rosto...

Hoje fomos almoçar à praia, após a missa. Estava imenso calor. Um peixinho óptimo e o G. a brincar descalso na areia mesmo ao lado da mesa. O meu menino feliz. Soube bem... O barco pertencente ao restaurante pousado no areal tinha escrito o teu nome, minha C. ...
Quando voltámos uma encomenda aguardava à porta de casa: era do nosso futuro afilhado, o pequeno P., Enviou-nos (pela mão dos pais, claro) um lindo vaso com dois pés de orquideas brancas - não fosse hoje do Dia das Madrinhas... Reconfortou-me o coração...

Domingo de Ramos

Foi hoje.
Está cá o ramo em casa. A missa foi linda.
Ficou a vela acesa por ti, minha doce C.. Como sinto a tua falta... É uma saudade que dói. Sente-se no corpo, como uma ferida aberta que não sara.

Hoje consegui finalmente comprar as 4 Tulipas Brancas... As que estavam na jarra no meu quarto murcharam no início da semana e corri várias floristas à procura de Tulipas Brancas... havia rosa, amarelas, champanhe... mas as nossas Tulipas Brancas não se encontravam em lado nenhum... sabia que numa florista grande aqui perto de casa iriam receber flores hoje da Holanda... e lá estavam elas... as Tulipas Brancas.
Fico sempre ligeiramente mais reconfortada quando as tenho no meu quarto, junto ao teu anjinho, minha querida.

Será que esta dor algum dia vai acalmar?
Como foi possível isto acontecer? Queria-te tanto... quero-te tanto. Tu sabes tudo o que te digo nestas palavras, minha filha...

Amo-te, para sempre... mesmo com a vida entre nós...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Arrumar roupinhas de menina

Minha doce C.,

Hoje fiz o que não queria. A par com lágrimas e forçando uma vontade que não existia... peguei nas tuas roupinhas que aguardavam ser vestidas por ti, dobrei-as, embrulhei-as em papel de seda azul e guardei-as uma por uma.
Não me separarei delas. Ficarão numa linda caixinha. Acompanha-me-ao e serão preciosas para mim. Logo se verá no futuro o que farei. Para já esta é a minha decisão. De modo algum estou preparada para abdicar de mais este pedaço de ti, minha filha.

Amo-te. Para sempre.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A causa...

A minha C. tinha uma "má formação cardíaca complexa grave"; foi o que nos informaram naquele 11 de Janeiro que nunca esqueceremos. Não sobreviveu para que eu a pudesse abraçar e proteger de todos os males...
O certificado de óbito que nos foi entregue na maternidade referia como causa de morte a mesma expressão: "má formação cardíaca complexa grave"...

Não quisemos correr mais riscos. Sabemos que o G. sempre foi uma criança saudável. Mas também encontrámos alguns estudos que referem que pais de crianças com este tipo de cardiopatia congénita têm uma probabilidade ligeiramente superior (2/3%) de ter outra criança com algum problema cardíaco (ainda que possa ser de muito menor gravidade). Hoje o G. foi fazer um exame cardíaco completo com ecocardiograma.
Recorremos ao mesmo cardiologista pediatrico que nos fez o ecocardiograma fetal na Maternidade, agora pelo privado, claro. Está optimo! Felizmente!
O cardiologista não achou disparatado termos ido fazer uma avaliação cardíaca ao G. (como eu receava). Foi simpático com o pequeno. Disse-lhe que ia ver o Ben Ten no monitor ecográfico e os Gormitis também! O G. ficou todo entusiasmado, claro! Claro que só viu manchas... Lá inventei que estava muito nevoeiro no monitor e não dava para ver bem os seus heróis... Aceitou a explicação, na inocência dos seus 4 anos. Ainda bem. Ele sabe que a maninha partiu para o Céu porque "tinha um dói-dói no coração" e por isso não lhe queriamos dizer que o exame que ia fazer era do foro cardíaco (para ele não associar). Correu bem.
Sobretudo, fiquei muito aliviada por saber que o coração do meu "menino grande" está bem!

Hoje foi também dia de Missa por Intenção à nossa C.. Fomos eu e o M., como a todas as que marcamos pela alma da nossa menina. Amo-te minha filha. Para sempre.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Avanços ou recuos?

Já passaram 2 meses desde que nasceu a minha C.. Foi no dia 22.
Fui à missa uma vez mais.
Ir à missa faz-me sentir bem. Acho que já aqui escrevi que não peço por mim... peço pela minha filha. Peço que esteja bem, e que Nossa Senhora a acolha no seu regaço.
Que a proteja e lhe dê o amor de mãe que eu não dei...
Deixo sempre uma vela acesa.
A saudade inunda-me sempre... os outros sentimentos também...

Queria tanto o impossível. Queria tanto a minha filha aqui, comigo. Hoje tive uma vez mais consulta de Psicologia na Maternidade. Falávamos a respeito desta saudade. Do desespero que eu sinto por não saber onde ela está. Dos receios que sinto também pelo facto de não ter podido baptizar a minha bebé.
A Psicóloga comentou a esse respeito que ela existia dentro de mim... perguntou-me se eu não sentia isso... Não. Não consigo sentir isso. Talvez venha a senti-lo um dia. Mas actualmente não sinto isso de todo. Dentro de mim sinto todas as minhas emoções: a saudade, o desespero, o não querer, a culpa. O Amor que lhe tenho. Mas não a consigo sentir dentro de mim... Se ela estivesse dentro de mim não havia o que recear...

Soube este fim-de-semana que a R. (que conheço pessoalmente), que perdeu uma menina em Novembro passado aos 7 meses de gestação se encontra novamente grávida. Fico muito feliz por ela. Infeliz por não poder partilhar da alegria dela.
Ontem tive consulta com o Dr. A.. Foi ele quem me acompanhou na maternidade. Foi a ele que escolhi para me acompanhar de agora em diante.
Seguro, pragmático, conhecedor, competente, cauteloso. O reconhecimento que existe na praça acerca das suas competências enquanto médico é justíssimo. Falámos abertamente acerca de tudo o que se passou. Examinou-me ao pormenor. Falei-lhe do meu desejo de ter um terceiro filho (perdoa-me, C.). Só aconselha a partir de Julho.
Fico triste. Parece-me uma eternidade. Sei que não o é. Mas é o que sinto.
Tenho o colo meio vazio e uma imensidão de amor que ficou suspenso no nada. Sim, este amor é da minha C., mas preciso materializar estes sentimentos. Preciso pegar um filho recem-nascido nos meus braços e senti-lo com vida. Sentir que é meu para sempre. Que o posso proteger. Que me reconhece. Que se aninha no meu colo, que reage.

Hoje acordei triste. Ontem estava tão ansiosa com a consulta e desejava tanto ouvir que posso ter outro filho que pensei de menos na minha C.. Foi o primeiro dia desde 11 de Janeiro que não chorei por ela. Perdoa-me. Amo-te filha.
Para sempre.

domingo, 21 de março de 2010

Saudade

A saudade de te sentir inunda-me.
Não consigo e não quero esquecer o teu corpo nos meus braços. Parece-me irreal... como pude segurar uma filha sem vida nos braços?
Quero tanto sentir-te novamente nos meus braços.
Sinto tanto a tua falta.
A falta do que não tive. Do que ficou por viver.
Ouço notícias dos outros bebés. Os que nascem com vida. Os que são gerados. Fico feliz por eles e pelos que os amam. Fico triste, tão triste por não te ter aqui também.
Apetece-me gritar. Gritar tão alto de tal forma que o meu desejo se transforme em realidade... mas sai-me uma voz silenciosa... por saber que não é possível... sai-me um: "Volta...", um "Acorda para mim" triste, pobre, entre lágrimas.

Todos desejam que eu fique bem. Que retome a minha vida. Que fique feliz. Não consigo acompanhar tais desejos. Não consigo percebe-los e integra-los dentro de mim de modo a fazerem sentido. Vou retomando aos poucos uma rotina... mas a saudade e a tristeza inundam-me quando me apercebo que a tua ausência é real e para sempre. É como um murro seco que bate no meu peito e aí deixa um peso. É uma saudade que se sente.
no corpo; é física.
Não consigo. Não aceito e não quero aceitar esta realidade. Fazes-me falta.
Alivia-me chorar. Alivia-me aqui escrever o que não posso dizer.

O M. tem sido um verdadeiro companheiro e vivemos a perda da nossa bebé e todo o processo a dois. Verdadeiramente a dois. Unidos na dor e no amor que te tínhamos... que te temos...
Sempre me acolheu no seu abraço e percebeu os meus sentimentos. Actualmente começa a ter necessidade de que eu fique melhor. E eu estou melhor. Sim. Melhor no sentido que todos desejam que esteja. Mas mesmo assim... sinto necessidade de falar de ti. De te manter presente de alguma forma. O teu pai neste momento começa a precisar de silêncio a respeito de ti. Sim, sei que pensa a cada segundo em ti. Mas falar... custa-lhe.
A mim custa-me não falar com ele sobre ti. Ouve-me e diz-me que compreende e percebe a falta que sinto de ti. Mas não fala. Não inicia uma conversa sobre ti. Sim, sei que não há muito a dizer... mas na verdade não quero que desapareças.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dia do Pai

Amanhã é o dia do Pai.

Quantos filhos tem este pai?
um? dois?

O noso G. está todo contente, pois amanhã os pais vão passar a manhã à escola e fazer actividades com os filhotes. "Vamos fazer um papagaio, mamã, mas é segredo, o papá não pode saber..." diz-me ele baixinho e todo contente ao ouvido.
Desde há uma semana para cá que a sua brincadeira favorita é embrulhar carrinhos, canetas e afins e presentear o "papá lindo" (como lhe chama por vezes).
Anda excitadissimo com o dia do pai.
Hoje fui comprar uma prendinha para o pequeno lhe dar amanhã. Não pude deixar de pensar que a minha C. não está cá... por esta altura já teria nascido. E seria um dia do pai tão mais felíz com a presença dela... como a perspectiva da tua vinda nos deixava felíz, minha filha...
Como lamento que não estejas aqui connosco para partilhar o dia de amanhã e todos os outros.
Perdoa-me.
Comprei também Tulipas Brancas. Raros são os dias em que as não tenho no meu quarto. Junto ao anjinho em prata...

segunda-feira, 15 de março de 2010

O meu G. está um menino grande!

Está mais que comprovado! O meu menino está grande. "Deu um pulo" e cresceu de repente... Em maturidade e em altura!
A caminha dele ainda era a que desenhei e mandei fazer antes de ele nascer. Tinha um tamanho grande e dava para retirar uma grade lateral, de modo a que conseguisse entrar e sair sozinho da caminha.
Fui protelando a compra de uma cama maior, dado que há quase 2 anos que esperamos trocar de casa (as obras nunca mais estão prontas...). Assim, fui adiando a compra de uma cama nova de modo a que houvesse menos um móvel para trocar nas mudanças.
A caminha era grande e ia dando... colocava todas as noites um "sofá cambalhota" aberto junto à lateral da cama para a eventualidade de ele cair da camita.
Depois engravidei... a minha doce C. vinha a caminho. A caminha de grades iria fazer parte das mudanças!! Mas para o quartinho que escolhi para a minha C.
Ao meu G. prometi uma caminha nova para a casa nova! E há muito que está escolhida: "uma cama de escadinhas" - entenda-se, um beliche!
Esta noite foi a prova que o meu G. cresceu... por 3 vezes fui apanha-lo no "sofá-cambalhota" e quase a cair deste para o chão.
Rendi-me às evidências... Não pode continuar a dormir na caminha de grades. Passei o dia a escolher colchões, edredons, capas de edredão e lençóis (não tinha nada de solteiro) - valha-nos o IKEA.
Cheguei a casa e coloquei na máquina de lavar e secar um conjunto de capa de edredão e lençol. Estendi o colchão sobre uma carpete limpa e sem pelo. Estou à espera que fique tudo bem seco para ir fazer a cama e o levar a dormir já no novo colchão.
Ele já adormeceu aqui no sofá da sala. Adormeceu ainda antes das 21.00, cansado da escola e da aula de natação ao final do dia.
Não comprei ainda a famosa "cama de escadinhas" mas já está escolhida! Vai directo para a casa nova (quando estiver pronta...). Até lá terá de dormir apenas no colchão... dado que se prevê que as obras estejam prontas ainda na primavera (a ver vamos...).
A cama de grades, essa, já não fará parte das mudanças. Vou desmonta-la. Não sei que fazer com ela para já. Espero que em breve tenha um destino para ela. Sei que vou desejar ter um terceiro filho nos braços. Vivo. São. Meu para sempre. Que me reconheça e se aninhe no meu colo quando o abraçar.
Perdoa-me, minha filha... tu sabes tudo o que te digo nestas palavras...

Dado que hoje de manhã pretendia ir ao IKEA fazer estas compras (que decidi durante esta noite), fui com o M. levar o G. à escolinha. Quando cheguei estava cá fora um autocarro, mas nunca pensei que fosse da turminha dele (geralmente têm passeio de 15 em 15 dias às terças). Entrei no colégio com ele quando soube que afinal tinham acabado de sair para o jardim botânico... Os olhinhos do meu menino começaram logo a brilhar de lágrimas. Não hesitei e perguntei onde era o jardim botânico. No Príncipe Real, disseram-me.
Lá fomos nós descobrir onde seria o Príncipe Real e o tal jardim... ao fim de algumas voltas lá demos com o dito... Toca a encostar o carro, tirar o miúdo, vestir casaco, correr para o jardim... e afinal não estavam ali. Perguntei se havia outro jardim botânico. Sim, respondeu-me o vigilante, na Ajuda.
Corremos para o carro. Cadeira com ele. Põe o cinto. Toca a andar. Ligo para a escola e confirmo que afinal é no jardim botânico da Tapada da Ajuda.
O pai diz que sabe onde é. Chegamos e eu digo que acho que não é ali... que aquele é o jardim tropical... o pai tem a certeza que é aquele. OK. Rendo-me.
Toca a encostar o carro, tirar o miúdo, vestir novamente o casaco, correr para o jardim... e não é ali... aquele é mesmo o jardim tropical.
Lá nos explicam onde é o jardim botânico (ali mesmo perto, ao cimo da Calçada do Galvão, onde viveu a minha avó materna). Toca a entrar no carro. Cadeira com ele. Por o cinto. Sentar. Retomar a marcha.
Chegamos novamente... tudo de novo... sair e correr para o jardim. Sim, estão lá, confirma a vigilante. Corremos na direcção que nos indica. Ainda vemos um labirinto de arbustos, ficou encantado e pediu para ir brincar para lá um dia. Respondo que sim.
Ao fundo avistamos os amigos. Corre entusiasmado na direcção deles! Sorriso rasgado! Atira-se ao colo da educadora e da auxiliar. Logo em seguida corre a contar as aventuras da viagem aos amigos. Enche-me a alma -lo assim.

Amo-te meu filho, digo-to num abraço apertado.
Amo-te minha filha, digo-to com um céu de distância entre nós... Tão longe e no entanto aqui tão perto... dentro do meu coração. Para sempre.

domingo, 14 de março de 2010

Mais um fim-de-semana

Os dias continuam a passar.
A dor permanece e a saudade aumenta.

Tento dar-me mais ao meu G.. A consciência pesa-me. Sei que lhe tenho dado menos.
Noto-o diferente. Percebe que não estou tão disponível; brinca mais sozinho. Procura-me mais para lhe dar um miminho.
Por vezes parece-me mais tristonho. É um sentimento que não lhe conhecia. Sempre foi um menino alegre, feliz, sorridente e de bem com a vida. Custa-me que se aperceba que estou diferente e que a vida tem estes revezes...
Quando lhe disse, no dia 24 de Janeiro, que a maninha tinha ido para o céu porque tinha um dói-dói no coração ficou tristinho.
Perguntou-me se eu já não tinha barriga. Perguntou-me se quando a maninha tivesse 4 anos, como ele, o coração também ia doer, e se quando "fosse grande" também ia doer.
Perguntou-me porquê que tinhamos comprado uma sementinha com um dói-dói no coração.
Disse-me que estava triste, que sentia saudades da maninha e perguntou-me como é que iamos saber qual era a estrelinha da maninha...
Respondi a tudo sem chorar. As dúvidas inocentes dos seus 4 anos. A tristeza nos seus olhinhos. Uma informação com um peso que aos 4 anos ainda não se pode, nem se sabe avaliar. E ainda bem que assim é.
Reparou claramente que a minha postura mudou.Que passava mais tempo no quarto, que nem sempre me deslocava à mesa para jantar. Deu-me um bonequinho seu "para me animar"; trazia-me iogurtes que "roubava ao frigorífico" e que me entregava acompanhados de um beijinho, "para comeres quando tiveres fome, mamã", dizia-me.
Amo-te meu filho. Como o teu sorriso me conforta a alma e me enche o coração...

Ontem fomos à praia de manhã com ele. A primeira vez que aceitei um convite para um "programinha": fomos com a mãe do Jõao Maria e da Madalena aqui do bairro brincar à praia. Conhecem-se desde que tinham meses. Adoram brincar juntos. Gostaram. Muito.
Vi-o de mão dada com a Madalena, mais pequena do que ele, numa postura protectora. Subiu para cima de uma rocha e disse-me: "mamã, estou aqui a tomar conta da Madalena para ela não subir; ela é pequenina e pode-se magoar"... como gostaria de o ver assim com a sua maninha.

Hoje fui uma vez mais à missa. Não peço por mim. Acho que nunca mais pedirei por mim. Peço à Virgem Maria que acolha nos Seus braços a minha doce C.. Que a proteja e lhe dê guarida. Que a embale e receba no Seu coração de Mãe. A Mãe que eu não fui.
Ficou a vela acesa. Vim-me embora. Sozinha.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Regresso ao espaço de trabalho...

Não tinha retornado desde 8 de Janeiro... a ultima sexta-feira "normal" que tive. Na segunda-feira seguinte fui fazer a ecografia morfológica das 32 semanas. 11 de Janeiro.
Nunca mais lá voltei. Foi o dia em que tudo mudou.
Fui a pedido da minha coordenadora, que após a minha manifestação de intenção de regressar ao trabalho no início de Abril, me solicitou que lá passasse primeiro, para eu avaliar como me sentiria.
Foi... difícil. Muito.
Fui no horário pós-laboral. Tive o cuidado de escolher um dia em que estivessem lá muito poucas colegas e que fossem aquelas com que me dou melhor...
A última vez que cruzei aquela porta estava tão feliz... Tinha a minha menina a caminho. Ela estava bem e tudo na minha vida parecia maravilhoso: tinha o meu G. bem, com a alegria que o caracteriza e feliz no seu novo colégio (o que muito me tranquiliza) e o meu M. no seu de sempre - maravilhoso e de bem com a vida.
Tinha acabado de passar a contrato sem termo no meu trabalho, depois de tanto sacrifício para ter uma situação profissional minimamente estável e regular.
Recordo-me de na passagem de ano pensar: "foi um ano muito, muito bom; estou feliz". De na passagem de ano desejar em silêncio muita felicidade e tudo de bom para o meu G., a luz da minha vida, para o meu M., para os meus pais e irmã. À minha doce C., que ansiava aconchegar nos meus braços, desejei "uma boa vinda" para a nossa família. Que fosse uma menina feliz.... que partilhasse da nossa alegria...

Regressar ao trabalho... é algo que anseio muito por um lado... sempre gostei de trabalhar e nunca me imaginei em casa. Preciso e é importante para mim ter o meu trabalho. Mais do que uma necessidade económica, claro, é uma necessidade pessoal. Gosto de ter uma vida profissional e de nela investir. Se gostaria de trabalhar menos horas e dispor de mais tempo para a família? Sim, claro que sim; sem dúvida! Mas abdicar da minha actividade profissional, isso nem pensar...
Mas neste momento voltar ao trabalho é algo que me assusta verdadeiramente. Tenho receio de não "estar à altura" de responder a todas as solicitações; de não aguentar viver o regresso ao trabalho enquanto a minha doce C. está no meu pensamento a todos os minutos...
Tenho medo de não "dar conta do recado".
Tenho receio de me confrontar com as 2 colegas grávidas; com as que planeiam ficar gravidas este ano e com a que vai regressar de licença de maternidade este mês. Soube hoje que a 3ª colega grávida teve o seu bebé ontem; um menino com o mesmo nome do meu G. (que seja feliz... muito). Não fico triste por elas terem uma alegria e um privilégio que eu não tive; fico triste por mim, por não poder ter a minha doce C. aqui, nos meus braços.
Por apenas lhe dizer em silêncio o que todos os dias digo em voz alta ao meu G. quando o abraço e o beijo: "A mamã adora-te; és a coisa mais importante da vida da mamã. Vou amar-te sempre!"

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mais um dia

Passa mais um dia.
Conto os dias. Mas é uma contagem sem sentido. Sempre com o mesmo significado: ela continua a não estar aqui. E a ausência dela deixa-me uma angústia, um desespero, um não querer acreditar, um recusar-me a aceitar. Dói. Cá dentro.

O meu G. está doentinho. O normal e recorrente nele. Expecturação, alguma tosse e febre. Geralmente passa em 2/3 dias.
Para mim, foi um dia puxado.
O M. trabalhou até tarde e o pequenote ficou comigo em casa.
Antes dava tudo para ter um dia da semana que pudesse passar inteirinho com o meu G.. Nunca o levei ao colégio num dia em que não trabalhasse. Todos os momentos livres eram prioritariamente para o meu G.. E como isso me deixava feliz!
Actualmente a minha capacidade para passar um dia inteiro com ele é muito, muito reduzida. Sinto-me triste, sem vontade de fazer o que quer que seja... como estou diferente. Não me reconheço. E ao escrever apercebo-me como estas são palavras que não eram típicas do meu vocabulário. Não são expressões do que eu sempre fui.
Mas claro que fiquei com ele e tentei ao máximo dar-lhe toda a atenção. Brincámos, fizemos puzzles, fizemos pudim, desenhos... ao fim do dia estava no meu limiar. Precisava do meu bocadinho para pensar e chorar a minha C.
Adormeceu cedo. Estava cansadinho, tadinho do meu menino querido.
Debrucei-me sobre os meus pensamentos e sobre os meus sentimentos. Chorei. Chorei muito. A angústia que a falta da minha C. me traz é indescritível.
O que fazer com os vestidinhos, com os sonhos, com os projectos, com o sentimento? Se ela partiu, porque é que me parece tão real? Porque é que o amor que lhe sinto é tão real?

Percebo cada vez com mais clareza, que mesmo não estando cá a minha C. a mudança que ela trouxe à minha vida foi e será sempre brutal e fulcral. Não existo como antes. Não voltarei nunca ao que era antes. Com toda a certeza. Existo em 2: o antes da minha querida C. e o depois da minha C.
Como eu te queria beijar todos os dias à noite antes de adormeceres como faço com o teu maninho...
Amo-te, meu doce.

domingo, 7 de março de 2010

Uma manhã para o meu G.

Ontem à noite escrevi e reflecti. Reflecti muito. As saudades da C. inundam o meu coração, o meu pensamento e tudo o que eu faço desde aquele 11 de Janeiro em que soube que estava doente. Que o seu coração era frágil. Que poderia não suportar.

Desde então que a minha entrega e dedicação a todos os outros caiu. Não tenho a mesma capacidade. Não consigo. Não quero.
No meio de tudo isto está o meu G., que eu tanto amo. Acima de tudo. Sei-o, Amo-o.
Tenho pequenos momentos em que consigo estar com ele e dar-lhe a devida atenção que ele merece. Mas são poucos. Mas não é com a mesma alegria e entrega.
Sei que ele o sente. Não o diz. Não percebe bem o porquê. Mas sabe que a mamã está mais triste. Menos disponível. Acomoda-se. Percebe.
A consciência pesa-me.
Sim, estou com ele todos os dias. Visto-o para ir para a escola, levo-o à natação, dou-lhe o jantar, adormeço-o. Mas sem a mesma entrega e paciência.
Faltam as brincadeiras pelo meio e o sorriso rasgado na minha cara.
Tento esforçar-me, a sério que tento. Mas sei que não é a mesma coisa.
Vale-me o meu M.. Que no meio da sua dor encontra espaço para me confortar e encontra espaço para cobrir as minhas falhas. Sobretudo no que respeita ao nosso filho.
Está quase sempre com ele. Encarrega-se da maioria das coisas. Assume o que me seria devido.

Ontem pensei e decidi: por mais que me custe amanhã de manhã tenho de estar mais disponível para o meu G.. Tenho de estar verdadeiramente disponível e não apenas de corpo presente.
Levantei-me pelas 9.00. Já eles estava acordados há mais de uma hora. Acordei a sonhar com a minha C.. A minha doce C.. Dei o beijinho de bons dias no meu anjinho em prata. fiquei uns minutos a pensar na minha querida C. e na falta que ela me faz.
Levantei-me e cumpri o que prometi: pintei aguarelas, fiz construções com os blocos de madeira e fiz bolinhos no forno, tudo com o meu G.. Com um sorriso um pouquinho mais rasgado e com uma paciência que não me tem sido característica.
O G. ficou contente. Fiquei contente por ele.

Ao almoço quebrei outra vez. Falta-me a minha C. nestas aventuras de Domingo em família. Vai faltar-me sempre a minha C.

sábado, 6 de março de 2010

O Início

Tantas vezes ensaiado.
Tantas vezes pensado. Porquê hoje? Porquê neste momento?
Porquê dar o passo hoje quando em tantos outros dias pensei iniciar um relato das minhas experiências?
Tantos momentos alegres e tantas experiências felizes para relatar. E é neste momento que inicio este relato.
Talvez porque me sinto só e porque quero estar só. Talvez porque tenha necessidade de falar para mim mesma.

Inicio este relato para mim. Só eu perceberei a amplitude do que aqui escrever. Só eu alcançarei o significado das minhas palavras.
A dor e o sofrimento que vivo neste momento. A perda. O não querer.



Somos 4.
Além de mim, tenho o M., o meu companheiro nesta viagem, Quem me tem limpo as lágrimas, quem chora comigo, quem compreende e sente toda esta dor. Um companheiro para a vida. O meu "porto seguro". O meu marido.
Tenho o meu G., a luz da minha vida. O meu menino lindo que me faz acreditar que tudo é possível e que a vida merece, sem dúvida, ser vivida. Por ele tudo. Por ele a vida.
A sabedoria dos seus 4 anos. A imaturidade e a inocência da sua idade. A sua alegria. O seu sorriso. O meu tudo. O meu filho.
Falta-me a minha C., a minha menina. Oh, como me falta. Da minha C. que eu tanto amo e tanto quero falta-me tudo. Falta-me a vida dela. A minha filha.



É sobre C. que preciso escrever hoje.
É ela quem me tem inundado o pensamento. É ela que não estando presente esta-o sempre. Esta-o de uma forma avassaladora. O não existir mais real. O existir sem cá estar.
Penso nela e soltam-se palavras que a minha garganta não solta. Palavras que grito em silêncio: AMO-TE, QUERO-TE, ACORDA PARA MIM, VEM ANINHAR-TE NO MEU COLO. Vem por favor encher o meu regaço, que está meio cheio, meio vazio.
Fazes-me falta.
Não te sinto o cheiro, não te sinto o calor.
Não te ouço chorar. Chora para mim. Chama-me.
Não te acalmo. Não te conforto. Não te alimento. Não te dou guarida nos meus braços. Não te embalo. Não te beijo.

A minha filha. A minha menina.
Adorei cada vestido que te comprei. Delirei com cada sapatinho. Com os folhinhos. Com o cor-de-rosa. Os sonhos criados, os projectos planeados. A tua realidade. A tua certeza. Eras minha. És minha.

O teu berço estava montado no meu quarto à tua espera.
As tuas roupas lavadas. Dobradas. Aguardando ser vestidas por ti.
Como eu sonhava que fossemos 4. Sempre.
Estavas quase a vir aos meus braços. Eras uma certeza para mim.

Ter-te...
O parto normal que eu receava. Já não havia o que recear. Não havia mais perigos para ti.
O 22 de Janeiro. Não te ouvi chorar.
Ao escrever sobre o dia em que nasceste lembro-me do dia em que o teu irmão nasceu. estava tão feliz. Sem receios. Sem medos. Só uma felicidade inocente. Pura. Sentida ao limite.
E quando nasceste minha amada... Tristeza, dor, o desejar que não fosse.
Perdoa-me.
Vi-te sair de mim. Não choraste. Chorei eu. Chorou o teu pai. Levaram-te envolta num lençol.
Pedi-te. Quis-te. Trouxeram-te e aconcheguei-te no meu colo. Não te aninhaste. Não me reconheceste. Não te acalmaste. Não reagiste.
Linda.
Frágil.
Pequenina.
Menina.
MINHA.
Sem vida.
Pedi um padre. Veio. Não te baptizou. Não podia. Benzeu-te e disse-me que estavas nas mãos de Deus.

E o regressar... quando a mudança maior é aquela que não existiu. Quando tudo está igual mas na verdade diferente para sempre. Faltas-me tu, minha querida.
Sim, voltei. Mas não trouxe a minha filha para casa. Trouxe um anjinho em prata que me deu a tua avó. A minha mãe. Esteve contigo quando nasceste, pousado no teu peito. Foi benzido contigo.
QUERO-TE.

A 28 levei-te a cremar. Uma urna pequenina. Branca. Como uma caixa de bonecas.
A minha bebé lá dentro. Junto a ela as fotografias, a carta - uma tentativa vã de estar mais proxima dela; de traze-la para mais próximo de nós. A explicação. A tentativa de colocar os sentimentos num papel.

O teu primeiro e ultimo vestido. Os teus sapatinhos em lã com uma florinha em lã. O cor-de-rosa. A mantinha. A touquinha branca. O vestido escolhido pela avó. Escolhido para te envolver no teu primeiro dia de vida; cobriu-te quando a não tinhas...
4 Tulipas nas tuas mãos, uma por cada um de nós os 4. Uma fita de cetim branco a envolve-las.
14 Tulipas pousadas sobre o teu primeiro e ultimo leito, por cada um de nós os 4, pelos avós, pelos tios e pelos primos. O teu anjinho em prata junto a elas.
Tulipas Brancas.

Não queria que tivesse sido assim. Queria-te tanto. Quero-te tanto.
Amo-te. Para sempre.