"Life is not about waiting for the storm to pass. It's about learning to dance in the rain"

Vivian Green


domingo, 21 de março de 2010

Saudade

A saudade de te sentir inunda-me.
Não consigo e não quero esquecer o teu corpo nos meus braços. Parece-me irreal... como pude segurar uma filha sem vida nos braços?
Quero tanto sentir-te novamente nos meus braços.
Sinto tanto a tua falta.
A falta do que não tive. Do que ficou por viver.
Ouço notícias dos outros bebés. Os que nascem com vida. Os que são gerados. Fico feliz por eles e pelos que os amam. Fico triste, tão triste por não te ter aqui também.
Apetece-me gritar. Gritar tão alto de tal forma que o meu desejo se transforme em realidade... mas sai-me uma voz silenciosa... por saber que não é possível... sai-me um: "Volta...", um "Acorda para mim" triste, pobre, entre lágrimas.

Todos desejam que eu fique bem. Que retome a minha vida. Que fique feliz. Não consigo acompanhar tais desejos. Não consigo percebe-los e integra-los dentro de mim de modo a fazerem sentido. Vou retomando aos poucos uma rotina... mas a saudade e a tristeza inundam-me quando me apercebo que a tua ausência é real e para sempre. É como um murro seco que bate no meu peito e aí deixa um peso. É uma saudade que se sente.
no corpo; é física.
Não consigo. Não aceito e não quero aceitar esta realidade. Fazes-me falta.
Alivia-me chorar. Alivia-me aqui escrever o que não posso dizer.

O M. tem sido um verdadeiro companheiro e vivemos a perda da nossa bebé e todo o processo a dois. Verdadeiramente a dois. Unidos na dor e no amor que te tínhamos... que te temos...
Sempre me acolheu no seu abraço e percebeu os meus sentimentos. Actualmente começa a ter necessidade de que eu fique melhor. E eu estou melhor. Sim. Melhor no sentido que todos desejam que esteja. Mas mesmo assim... sinto necessidade de falar de ti. De te manter presente de alguma forma. O teu pai neste momento começa a precisar de silêncio a respeito de ti. Sim, sei que pensa a cada segundo em ti. Mas falar... custa-lhe.
A mim custa-me não falar com ele sobre ti. Ouve-me e diz-me que compreende e percebe a falta que sinto de ti. Mas não fala. Não inicia uma conversa sobre ti. Sim, sei que não há muito a dizer... mas na verdade não quero que desapareças.

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