"Life is not about waiting for the storm to pass. It's about learning to dance in the rain"

Vivian Green


sábado, 6 de março de 2010

O Início

Tantas vezes ensaiado.
Tantas vezes pensado. Porquê hoje? Porquê neste momento?
Porquê dar o passo hoje quando em tantos outros dias pensei iniciar um relato das minhas experiências?
Tantos momentos alegres e tantas experiências felizes para relatar. E é neste momento que inicio este relato.
Talvez porque me sinto só e porque quero estar só. Talvez porque tenha necessidade de falar para mim mesma.

Inicio este relato para mim. Só eu perceberei a amplitude do que aqui escrever. Só eu alcançarei o significado das minhas palavras.
A dor e o sofrimento que vivo neste momento. A perda. O não querer.



Somos 4.
Além de mim, tenho o M., o meu companheiro nesta viagem, Quem me tem limpo as lágrimas, quem chora comigo, quem compreende e sente toda esta dor. Um companheiro para a vida. O meu "porto seguro". O meu marido.
Tenho o meu G., a luz da minha vida. O meu menino lindo que me faz acreditar que tudo é possível e que a vida merece, sem dúvida, ser vivida. Por ele tudo. Por ele a vida.
A sabedoria dos seus 4 anos. A imaturidade e a inocência da sua idade. A sua alegria. O seu sorriso. O meu tudo. O meu filho.
Falta-me a minha C., a minha menina. Oh, como me falta. Da minha C. que eu tanto amo e tanto quero falta-me tudo. Falta-me a vida dela. A minha filha.



É sobre C. que preciso escrever hoje.
É ela quem me tem inundado o pensamento. É ela que não estando presente esta-o sempre. Esta-o de uma forma avassaladora. O não existir mais real. O existir sem cá estar.
Penso nela e soltam-se palavras que a minha garganta não solta. Palavras que grito em silêncio: AMO-TE, QUERO-TE, ACORDA PARA MIM, VEM ANINHAR-TE NO MEU COLO. Vem por favor encher o meu regaço, que está meio cheio, meio vazio.
Fazes-me falta.
Não te sinto o cheiro, não te sinto o calor.
Não te ouço chorar. Chora para mim. Chama-me.
Não te acalmo. Não te conforto. Não te alimento. Não te dou guarida nos meus braços. Não te embalo. Não te beijo.

A minha filha. A minha menina.
Adorei cada vestido que te comprei. Delirei com cada sapatinho. Com os folhinhos. Com o cor-de-rosa. Os sonhos criados, os projectos planeados. A tua realidade. A tua certeza. Eras minha. És minha.

O teu berço estava montado no meu quarto à tua espera.
As tuas roupas lavadas. Dobradas. Aguardando ser vestidas por ti.
Como eu sonhava que fossemos 4. Sempre.
Estavas quase a vir aos meus braços. Eras uma certeza para mim.

Ter-te...
O parto normal que eu receava. Já não havia o que recear. Não havia mais perigos para ti.
O 22 de Janeiro. Não te ouvi chorar.
Ao escrever sobre o dia em que nasceste lembro-me do dia em que o teu irmão nasceu. estava tão feliz. Sem receios. Sem medos. Só uma felicidade inocente. Pura. Sentida ao limite.
E quando nasceste minha amada... Tristeza, dor, o desejar que não fosse.
Perdoa-me.
Vi-te sair de mim. Não choraste. Chorei eu. Chorou o teu pai. Levaram-te envolta num lençol.
Pedi-te. Quis-te. Trouxeram-te e aconcheguei-te no meu colo. Não te aninhaste. Não me reconheceste. Não te acalmaste. Não reagiste.
Linda.
Frágil.
Pequenina.
Menina.
MINHA.
Sem vida.
Pedi um padre. Veio. Não te baptizou. Não podia. Benzeu-te e disse-me que estavas nas mãos de Deus.

E o regressar... quando a mudança maior é aquela que não existiu. Quando tudo está igual mas na verdade diferente para sempre. Faltas-me tu, minha querida.
Sim, voltei. Mas não trouxe a minha filha para casa. Trouxe um anjinho em prata que me deu a tua avó. A minha mãe. Esteve contigo quando nasceste, pousado no teu peito. Foi benzido contigo.
QUERO-TE.

A 28 levei-te a cremar. Uma urna pequenina. Branca. Como uma caixa de bonecas.
A minha bebé lá dentro. Junto a ela as fotografias, a carta - uma tentativa vã de estar mais proxima dela; de traze-la para mais próximo de nós. A explicação. A tentativa de colocar os sentimentos num papel.

O teu primeiro e ultimo vestido. Os teus sapatinhos em lã com uma florinha em lã. O cor-de-rosa. A mantinha. A touquinha branca. O vestido escolhido pela avó. Escolhido para te envolver no teu primeiro dia de vida; cobriu-te quando a não tinhas...
4 Tulipas nas tuas mãos, uma por cada um de nós os 4. Uma fita de cetim branco a envolve-las.
14 Tulipas pousadas sobre o teu primeiro e ultimo leito, por cada um de nós os 4, pelos avós, pelos tios e pelos primos. O teu anjinho em prata junto a elas.
Tulipas Brancas.

Não queria que tivesse sido assim. Queria-te tanto. Quero-te tanto.
Amo-te. Para sempre.











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