"Life is not about waiting for the storm to pass. It's about learning to dance in the rain"

Vivian Green


sexta-feira, 30 de abril de 2010

Saudade

A saudade do que não se tem e nunca se teve é indescritível.
A realidade do nosso sentimento embate no nada.
Falta o choro, falta o riso, falta o calor. Falta tudo o que não senti quando a tive nos meus braços.
Parece-me tão real... e no entanto nunca existiu. Nunca esteve cá. Como me disse uma vez a Dr.ª T.B., que tão importante foi para mim neste processo: "ela não existe, nunca existiu sem ser para si". Na altura essas palavras caíram como chumbo: foram pesadas, duras e doeram. Hoje caem no nada. Porque de facto nunca a tive.
Mas é mais real do que tudo ! É tão real como o meu filho vivo! Que respira e que dorme serenamente aqui ao meu lado. É real para mim.
Lembro-me de a ver. Não lhe tinha levado nenhuma roupinha, pois na maternidade disseram-me para não o fazer. Mas as pessoas que conheci e me acompanharam naquele dia foram maravilhosas. Uma delas foi a enfermeira Amélia. Levou-a quando nasceu e trouxe-ma num bercinho tal qual um bebé vivo. Vestida com um vestidinho amarelo, velho e coçado. Embrulhada numa manta desgastada e meio rasgada.
Era linda. Minha. A minha filha que eu tanto amo.
A enfermeira disse-me com toda a sinceridade "Fiz o melhor que podia e sabia".
Não tenho palavras para lhe agradecer. A minha menina.
Permitiram que ficasse largos minutos com ela no meu colo. o M. também a quis aconchegar no seu colo. Deixaram-nos ficar sós com ela. Deixaram o padre vir.
No fim voltou a enfermeira Amélia: "Tenho de a levar, desculpem". Um último beijo. Deixei que a levasse.
Como a queria aqui agora.

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